“Reconhecer as raízes ancestrais é se apropriar da sua herança
e valorizar a própria história.”
Rafael Nolêto (www.pensador.com)
As Famílias Pereira e Manhães, considerando a necessidade honrosa de registrar a trajetória e contribuição de Francisco Manhães da Boa Morte ao Município de Campos dos Goytacazes e Quissamã, tanto do ponto de vista histórico, como do humanístico, APRESENTAM este dossiê para registro no Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes, doravante, IHGCG e Registro no Patrimônio Histórico da Prefeitura de Quissamã, em póstuma homenagem a este homem honrado, proprietário de terras nos dois municípios.
Campos dos Goytacazes/Quissamã, 15 de agosto de 2024.
INTRODUÇÃO
Segundo o geólogo campista Alberto Ribeiro Lamego, em sua obra “O Homem e o Brejo”, entre o relevo da Serra do Mar e o mar, estende-se a planície campista, cuja cota de altitude é de, em média, 14m acima do nível do mar. As restingas e manguezais correm a costa e protegem o interior dos ventos fortes do mar e da salinidade excessiva.
O rio Paraíba do Sul foi o responsável por depositar, por milhares de anos, sedimentos no fundo mar e a formar a Planície Goitacá. Junto com essa matéria orgânica, vinham também sedimentos que, transportados pelo rio, se acumularam nas áreas rasas do mar e, depois de milhares e milhares de anos, deram origem a essas terras propícias ao plantio da cana-de-açúcar e que são também de boa qualidade para a utilização na indústria ceramista.
Estamos assentados em um território sob o domínio das águas cujo soberano é o rio Paraíba do Sul. Nossa paisagem tem o predomínio da planície costeira cercada por restingas e manguezais.
A restinga se diferencia na paisagem litorânea da região do Norte do Estado do Rio de Janeiro. O geólogo Alberto Lamego, em sua obra “O Homem e a Restinga”, compara a restinga “a matemática de órbitas celestes, repetindo em caminhos terrestres numa engenharia descomunal”. A vegetação arbustiva da restinga se emparelha em faixas de longa extensão que se estendem entre montículos alongados de areais, “simulam o próprio mar” (Lamego, 1974, p. 25) estendendo-se da zona da lavoura canavieira até o mar.
Foi essa paisagem da Baixada Campista a moradia dos primeiros habitantes da nossa região, os bravos indígenas da nação Goitacá.
O Frei Simão de Vasconcelos, em sua obra “A vida do venerável padre José de Anchieta”, que esteve por aqui por volta de 1594, relata que nossos indígenas viviam “nas águas de grandes alagoas” que dominavam seus campos. Eram ferozes guerreiros gigantes e muito bons arqueiros. Viviam nas águas, igual a crocodilos, e por isso receberam o nome “goitacás”.
Contudo, todos descrevem bem a paisagem encharcada da nossa planície entre os rios Itabapoana e Macaé, território sob o domínio goitacá até a chegada do colonizador por volta de 1633, quando teriam os Sete Capitães, donatários da Capitania de São Tomé, erguido um curral e uma choupana de palha em Campo Limpo, que deixaram aos cuidados do índio Valério, com uma vaca e um touro. Em 10 de dezembro, um novo curral foi levantado na ponta do Cabo de São Tomé, deixado sob os cuidados do escravo Antônio Dias com mais um touro e uma vaca, e um terceiro curral, a pouca distância deste, que foi deixado aos cuidados do índio Miguel.
O Capitão Manoel Martins do Couto Reys, em sua obra “Descrição Geográfica, Política e Cronográfica do Distrito dos Campos dos Goitacazes”, de 1785, atesta a região pantanosa que eram os campos dos Goitacás, coberta por alagados, lagoas, charcos e rios que inundavam e fecundavam todo o território.
A expansão da criação de gado aconteceu sob o domínio dos Assecas, donatários da Capitania Paraíba do Sul, ricos empresários do comércio, inclusive de ouro. Com eles, a capitania foi partilhada em sesmarias e distribuída a outros empreendedores menores, favorecendo, assim, a atividade pecuarista dominante. O gado era vendido para regiões mineradoras nas gerais e aqui enriqueceu os donos das terras, contribuindo para a formação de uma poupança interna que fundamentou a atividade agrícola da cana-de-açúcar quando a pecuária enfraqueceu.
Essa proximidade do animal - cavalo e boi - com o homem no campo criou laços tão profundos que se refletiu na linguagem e nas expressões locais, assim como em atividades ligadas ao campo: são as corridas de Cancha Reta, as Cavalgadas, as Festas de Laço e a própria Cavalhada. Desenvolveram atividades associadas, tais como o seleiro - a sela campista, o ferreiro, o laçador profissional e desportista.
Segundo Boris Fausto (1995:78 apud Paes, 2018), em sua obra “História do Brasil”, o cultivo da cana para a produção de açúcar no Rio de Janeiro, especialmente na região de Campos dos Goytacazes, teve expressão após o século XVIII. Até então, a cachaça foi o principal produto, utilizado como moeda de troca no comércio de escravos com Angola. A economia açucareira mudou a paisagem: drenou alagados com a abertura de canais, construiu solares coloniais no campo e sobrados ecléticos na cidade, criou o senhor de engenho e os barões do açúcar. Também nos legou o gosto saboroso dos doces de tradição portuguesa como o chuvisco, nossa referência maior.
Sobre esse chão, o homem daqui, primeiro desenvolveu a pecuária, mais própria aos alagados, o que lhe rendeu pequenas fortunas, a poupança de que necessitariam para iniciar as lavouras de cana-de-açúcar, desde os fins do século XVIII, até meados do século XX, passando pelos estágios de engenhoca, engenho e usina.
PARTE I
Francisco viveu em um período interessante da história da humanidade: a virada do século XIX para o XX - que foi marcada pela queda dos grandes impérios e pelo avanço das ciências. Na área médica, por exemplo, foi criada a medicina preventiva e os cuidados com a saúde pública; época também marcada por importantes inovações tecnológicas, frutos da revolução industrial como o telefone, a fotografia, o cinema e até o sabonete.
Os direitos civis foram destacados pela abolição da escravidão africana no século XIX e pelo voto feminino no século XX. O Brasil foi pioneiro nas discussões sobre o voto das mulheres na América Latina. Nessa mesma época viveram filósofos e pensadores que criaram teorias e reflexões responsáveis pela mudança de atitudes e padrões da sociedade da época.
A Proclamação da República aconteceu no Brasil em 1889, época em que a sociedade brasileira estava organizada sobre estruturas rurais, com boa parte da população vivendo nas cidades que ainda começavam a organizar seus espaços urbanos: esse momento deu início à construção da nossa identidade como cidadãos brasileiros, não mais como colonos de Portugal. Foi o momento da recuperação econômica, adotando um modelo agrário fortemente sustentado com exportação de café, borracha, algodão e cacau.
Francisco, ainda muito novo, com cerca de vinte poucos anos, casou-se em primeiras núpcias com Inácia Maria de Jesus com quem teve 13 filhos, sendo: Manoel, João, Úrsula, Escolástica, Maria, Mariana, Bento (falecido ainda criança), Alexandre, Ercília, Antônia, Nelson, Lucília e Celeste.
Francisco constituiu segundo núcleo familiar com Francisca Custódia da Conceição por volta de 1916 com quem teve mais 09 filhos: João Francisco, Antônio Francisco, Maria Francisca, Nelly Francisca, Jacy Francisco, Jovita, Haydéa, Arlete e Ney Francisco (falecido na juventude).
Francisca Custódia da Conceição
(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães
e irmãos)
Sua residência na cidade se localizava na Rua Ipiranga, 90, em uma chácara, onde hoje está erguido o Edifício Vila Real, Fornecedora Jacintho e arredores.
Francisco Manhães também é nome de rua em Campos dos Goytacazes, entre a Rua dos Goytacazes e a Rua Marechal Floriano.
A pedido de Francisco Manhães, o genro Júlio César de Freixo Lobo, casado com Lucília Manhães Lobo, redigiu o documento para instalação de um Colégio na Barra do Furado - atual Escola Municipal Délfica de Carvalho Wagner, em homenagem à primeira professora daquela geração e de muitas outras.
A Capela dedicada à Nossa Senhora da Boa Morte foi construída em terreno doado pelo Sr. Francisco, que também a construiu com a colaboração das senhoras Haydéa Peixoto Grain, Isabel Peixoto Crespo e Isabel Sampaio Peixoto.
A imagem da Nossa Senhora deitada foi presente de uma família portuguesa a Francisco Manhães, pois em muitas outras imagens ela é representada de pé.
Mais tarde, seguindo os passos do patriarca, familiares doam terreno para a construção do Posto Médico “Mário Barros Wagner”, por sua esposa Nelly Francisca Manhães Wagner; também o terreno da atual Escola Municipal “Délfica de Carvalho Wagner” foi doado pelo filho de Francisco, Alexandre Pereira Manhães, no 1º segmento, e quando da ampliação física da referida Unidade Escolar, o 2º segmento foi doado pela Sra. Nelly Francisca Manhães Wagner.
A sua influência na localidade foi tamanha que nomeia a Avenida principal – Av. Francisco Manhães da Boa Morte.
Também outros familiares de Francisco Manhães foram homenageados com nomes de rua, na Barra do Furado:
MEMÓRIAS AFETIVAS
Lembranças de Ana Beatriz Manhães Pinto – bisneta
A imagem de Nossa Senhora da Boa Morte exposta na Igreja do mesmo nome foi presente de amigos ao coronel, que a trouxeram de Portugal.
Lembranças de Nilda Maria Manhães Pinto - neta
Lembra com carinho que quando ia até o Sr. Francisco pedir a benção ele sempre respondia – “Deus te abençoe, meu a njinho”, o que fortalece o lado carinhoso de uma das pessoas mais significativas da Baixada Campista.
Lembranças de Milton de Freixo Lobo – neto
Sr. Milton, neto do coronel, filho de Lucília, que hoje reside no Rio de Janeiro, se lembra com afeto do senhor Lino Açucena, que fazia a travessia em sua canoa do Furado para a Barra do Furado, muito lembrado por atravessar as crianças que iam para a escola da Prof.ª Délfica. Naquele tempo, o rio era largo e profundo e os pais confiavam nele. Anos depois existiu outro canoeiro alcunhado de “Cai N`Água” muito popular também.
Também se lembra da casa junto ao rio do Espinho, com um coqueiral e um engenho já abandonado, em que já se fizera açúcar mascavo e melaço.
O coqueiral, ao anoitecer, às vezes abrigava bandos barulhentos de aves de arribação. O tuiuiú, como habitante dos alagados, era caçado na região.
Seu pai, Júlio Cesar de Freixo Lobo, veio do Rio de Janeiro para ser radiotelegrafista no chamado Rádio Velho, em Farol de São Tomé e através do código morse orientava as embarcações em áreas submersas dos baixios da Barra do Furado, que era considerada área perigosa para os que transitavam em nossa costa.
Lembra também o Sr. José Chagas que, inicialmente trabalhando no serviço manual de remoção de moitas nas águas que corriam da Lagoa Feia para a barra, formou uma empresa que, por muitos anos, em conjunto com o DNOS, executou a drenagem em vasto território do Estado do Rio de Janeiro.
Lembranças de Zilda Venâncio Petrucci
Maria, uma das filhas do coronel, casada com o Sr. João Ribeiro, é a madrinha de Zilda.
Sr. Vicente, casado com Mariana, genro do coronel Francisco, foi dono da afamada cachaça Furadense.
Sr. Alexandre, casado com dona Felisminda, morava na Rua Sete de Setembro com os filhos Cinésio e Dilma.
Lembranças de Sylvia Paes
Eu me lembro, quando menina, de ter ido em um domingo, junto com meus pais, até a casa da família em Barra do Furado saborear camarões deliciosos, em companhia da família de Sr. Ninico, querido compadre de meus pais, fazendeiro em Santo Amaro. Ao chegar, me chamou a atenção o degrau da entrada da cozinha com um desenho que mais tarde fiquei sabendo ser um marco jesuíta usado para demarcar suas terras na Baixada Campista. Na entrada do Palácio da Cultura, na sede do município, tem uma pedra com o marco jesuíta, como aquela do degrau que eu vi, também recolhida daquela região.
PARTE II
UM DIA ESPECIAL
O 14 de agosto de 2022 foi um dia especial. A família Manhães se reuniu após a missa solene em celebração ao dia da padroeira da Barra do Furado, Nossa Senhora da Boa Morte. Muitos da família há muito não se viam ou mesmo nem se conheciam, pois, a família numerosa foi migrando para outras cidades e Estados. Emocionante o encontro e até mesmo inesquecível.
Nos preparativos, desde 25 de julho do mesmo ano, ideias foram surgindo tais como, camisas personalizadas com a foto do nosso patriarca Francisco e no verso da mesma o BRASÃO da Família Manhães.
E, assim, nos reunimos no domingo, após a missa solene celebrada pelo padre Mauro Nunes, da Diocese de Friburgo, à qual pertence a Paróquia de Quissamã, que gentilmente atendeu ao pedido da bisneta Ana Beatriz, filha de Nilda Manhães, para que a celebração fosse no domingo e não no sábado como é da rotina.
Como cerimonialista foi convidado o jornalista, escritor, professor e palestrante admirável Avelino Ferreira que, ao lado do busto e tendo ao seu redor “os Manhães” iniciou discorrendo sobre a importância do ato cultural para as gerações porque homenagear os antepassados, reconhecer um exemplo de vida é de grande importância, as raízes têm que ser cultivadas como forma de aprimoramento humano.
A seguir, convidou a historiadora Sylvia Paes para que apresentasse seu brilhante trabalho sobre esse chão tão rico, passando pelos primeiros habitantes e pelos 07 Capitães, discorrendo na sua fala, sobre os primórdios da região costeira com suas restingas, brejos e manguezais e a futura vocação para a lavoura canavieira dando, assim, início ao dossiê no qual Francisco Manhães foi a figura principal.
Francisco Manhães da Boa Morte saindo para viajar, 1936.
CARTA DE ARAXÁ
- Enviada aos 2 filhos, quando em período de estação de águas – Araxá/MG -
FALECIMENTO
RÁDIO CAMPISTA AFONSIANA LTDA.
RUA VISCONDE DO ITABORAÍ, 154
Campos – Est. do Rio
FOLHA DO POVO – 6ª feira - 28-12-1951
Desaparece uma das mais respeitáveis figuras da Baixada Fluminense – chefe de uma grande e conceituada família, Chefe Político que se fazia acatar pela inteireza do seu caráter e equilíbrio de atitudes – Será enterrado em Santo Amaro, o Cel. F. M. DA B. MORTE.
Uma das mais respeitáveis figuras da Baixada Fluminense acaba de desaparecer do nº dos vivos, o coronel Francisco Manhães da Boa Morte. Lavrador por tradição e por vocação, o cel. Chico Manhães nasceu, viveu e fez questão de morrer como trabalhador do campo, plantando e criando, enriquecendo o seu berço natal e cuidando devotadamente da família, das mais numerosas e unidas, sempre por ele norteada, já que nada faziam de importante seus filhos e netos, genros e amigos, sobrinhos ou afilhados, sem que antes ouvissem a palavra considerável e segura do chefe e amigo, que era o velho e venerável Cel. Boa Morte.
O POLÍTICO
Quando vemos nos dias de hoje, terra campista sem um verdadeiro chefe político, lamentamos o desaparecimento de F.M. da B.M. Durante muitos anos e até bem pouco, por mais intrincadas que fossem os “casos” por mais renhidas que fossem as pendengas, logo terminavam na paz com a intervenção desse homem simples e extraordinário, que as dirimia com a imparcialidade e saber de um Salomão e, ao mesmo tempo, transformava, num instante, inimigos irreconciliáveis em amigos para todo o sempre. Era o verdadeiro chefe do 3º distrito, notadamente em Santo Amaro, São Martinho e Barra do Furado, Assu, etc. Em 1934 candidato a vereador pelo seu distrito, alcançou a mais espetacular votação jamais alcançada em toda a Baixada. Escolhido presidente da Câmara, não aceitou o alto posto, preferindo ficar fora da Mesa, como companheiro dedicado do General Cristóvão Barcelos, de Arthur Lontra Costa, etc. Ultimamente, com a idade avançada, afastou-se um tanto das lides partidárias, mas ainda assim sua voz era ouvida e acatada, porque era sempre e antes de tudo a voz do bom senso, da experiência e do patriotismo. Fundado o Part. Soc. Bras, nele ingressou, assim como vários dos seus filhos, netos, sobrinhos e genros. Apesar de senhor de muitas terras, muito gado e muita lavoura, o cel. Boa Morte jamais foi um reacionário. O que era seu era de todos. Em cada empregado tinha um amigo em cada auxiliar um colaborador dedicado e leal.
DESCENDÊNCIA
Era casado em segundas núpcias com Dona Francisca M. que deixa viúva.
Faleceu às 13h30 horas, aos 86 anos de idade cercado pelo carinho dos seus e do respeito de toda sociedade campista.
Deixa os seguintes filhos: Manoel, Alexandre, Nelson, João, Escolástica, Úrsula, Mariana, Ercília, Lucília, Antônia e Celeste Pereira Manhães (1º matrimônio) e, mais João Francisco, Antônio Francisco, Jacy Francisco, Ney, Maria Francisca, Nely, Jovita, Haydéa e Arlete Pereira Manhães (2º matrimônio). Deixa também mais de 80 netos e mais de 20 bisnetos.
HAVERES
O Cel. Chico Manhães lega a seus herdeiros largos haveres fruto de anos e anos de trabalho intenso e honrado. Entre as suas propriedades se contam “Pao Grande”, “Furado”, “Castanheta” e “Machado” situadas nos municípios de Campos e Macaé.
O ENTERRAMENTO
Seu enterro se dará hoje, saindo o corpo, em trem especial, às 10 horas da manhã, da Estação, para Santo Amaro em cujo campo santo será sepultado.
A Folha do Povo, que tinha no cel. B. Morte e tem nos seus descendentes dedicados e amigos e colaboradores, associa-se muito sinceramente ao pesar dos que choram o seu passamento, e que são, por certo, todos eles os homens da rica e laboriosa Baixada Campista.
Mais de mil pessoas o acompanharam ao cemitério de Santo Amaro.
Homenagem da Câmara Municipal. Era um verdadeiro patriarca da Baixada.
Verdadeira consagração recebeu ontem a figura pouco comum do Cel. Francisco Manhães da Boa Morte, campista de velha têmpera, verdadeiro patriarca da Baixada Campista. Logo que correu pela cidade e desta até Santo Amaro a notícia do seu passamento, homens de todas as condições sociais foram até sua residência, na Rua Ipiranga, 90, para tributar-lhe as últimas homenagens e para testemunhar a seus filhos netos, bisnetos, genros, noras, sobrinhos, afilhados, etc. quanto era estimado e acatado aquele varão de 86 anos, vividos inteiramente a serviço do bem e do próximo.
Entre os que estiveram na chácara da rua Ipiranga e os que compareceram ao seu funeral a reportagem pode contar mais de mil pessoas. E em Santo Amaro, onde foi enterrado o corpo do cel. Boa Morte, todas as atividades foram interrompidas para que toda gente levasse ao grande amigo e conselheiro o seu adeus, a sua despedida, muita tristeza. Ao baixar o corpo à sepultura, discursou o nosso ilustre confrade Ulisses Martins – Homenagem da Câmara – O dr. Maximino Ferreira Ramalho, presidente da Câmara Municipal de Campos, interpretando o sentimento dos senhores vereadores, e desejando dar uma demonstração de pesar pelo falecimento do ex-vereador Francisco M. da B M., ante-ontem ocorrido, resolveu suspender o expediente do Legislativo, por três dias, tendo, em Comissão com os edis Manoel Pereira Gonçalves e Amaro Soares acompanhado os funerais representando a Câmara. Entre os que visitaram o corpo do Cel. Boa Morte, arrolamos o Dr. Pereira Rebel, Procurador Geral do Estado.
GRINALDAS
O trem especial que levou o querido morto até Santo Amaro, conduziu muitas “corbeilles” de flores, entre as quais pudemos anotar as enviadas por: Barros Barreto e família, Departamento Nacional de Obras e Saneamento, Artur Lontra Costa,, Sr. Dito e família, Maria da Conceição e filhos, Francisca Custodia da Conceição (esposa) e filhos, Irmãos Martins, Arialdo Ribeiro, Helson Souza, Alexandre Batista e família, Ageu Macabu e família, José Francisco Pinto, Hercília e filhos, Celso de Souza e família, Nelson Manhães e família, Antonio Manhães, esposa e filhos, Escolástica Manhães e família, Úrsula Manhães e esposo.
Pelo neto AYRTHON NERY DE SOUZA:
Exmas. Sras. Meus Senhores
A mim foi dada nesta hora a missão sublime de agradecer. O que realizamos não poderia ser tarefa de uma só pessoa. Vi, com profundo sentimento de gratidão, que a ideia de se comemorar o centenário de nosso amado e inesquecível avô, Coronel Francisco Manhães da Boa Morte, teve o apoio franco e entusiástico de centenas de seus descendentes. Os filhos ampararam-nos, os 120 netos, uniram-se espontaneamente. Todos, enfim, se congregaram com um só coração e uma só alma para homenagear aquele que nos legou, acima de tudo, o exemplo de probidade, de bondade e de um altruísmo raramente encontrado.
Seja nosso primeiro agradecimento ao Deus todo poderoso que nos concedeu vida, saúde e o ideal sadio e nobre de perpetuarmos no bronze a memória de quem viverá sempre na recordação dos que, em número incalculável, tiveram a ventura de serem chamados seus parentes ou amigos.
A todos quantos em espírito se unem nesta homenagem, a nossa imorredoura gratidão, que mais se aquilata quando vemos unidas na mesma saudade famílias nobres de nossa terra, como as de João Wagner dos Santos, do Desembargador Álvaro Grain, do Dr. Gastão de Almeida Graça e do Dr. Artur Emiliano da Costa, aqui hoje redivivo na pessoa, na inteligência, na palavra clara, ardente e emocionante do seu digno filho Dr. Artur Lontra Costa.
No dizer de um poeta, a saudade nos punge como um espinho, mas qual uma flor delicia-nos com um perfume. Eis o estado em que se acham os nossos corações: sangrados pela dor da separação do nosso velho protetor, privados de suas brandas palavras de orientação e conselhos e daquele olhar cuja piedade nenhum artista poderia reproduzir, não haverá lágrimas capazes de traduzir a grande emoção que nos empolga. A dor, entretanto, é suavizada por essa tão consoladora e afetuosa solidariedade dos amigos e dos parentes do nosso saudoso pai e pela alegria imensa que experimentamos ao ver que ainda existem neste mundo as verdadeiras amizades e o sublime sentimento que se chama gratidão.
Possuídos assim, desse misto de tristeza e de alegria, só nos resta num momento de silêncio, subir todos nós nas asas do pensamento ao Trono da Graça e suplicar ao Onipotente que console as nossas almas e abençoe as nossas lágrimas, permitindo que nós e nossos filhos palmilhemos as veredas da honradez e da bondade sempre trilhadas pelo inolvidável pai, avô, parente e amigo, que foi o venerando Coronel Francisco Manhães da Boa Morte. 15.8.1965.
(Transcrito pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)
LIVRO DE OURO
AGRADECIMENTO
Aqui deixamos nossa gratidão a todos que contribuíram para que trouxéssemos à luz, uma pequena mostra da trajetória de um homem que marcou seu tempo, não com palavras, mas por meio de exemplos edificantes que, ainda hoje, norteiam seus descendentes na busca da evolução. E, em especial:
-À Alves Coordenação Editorial e Assessoria Digital (Ana Elisa e Nana Rangel);
-A Alvanir Ferreira Avelino, jornalista, professor, ator, escritor, palestrante e cerimonialista graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC) e pós graduado em ensino de Filosofia pela mesma instituição;
-À Edinalda Maria Almeida da Silva, mestra em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) e ocupante da cadeira nº 28 na Academia Campista de Letras (ACL), a Família Manhães agradece a revisão ortográfica deste dossiê;
-A Francisco Aguiar, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG);
-A Genilson Paes Soares, artista plástico, bibliófilo, publicitário, designer gráfico e bacharel em Comunicação Social pela Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC), 1º Tesoureiro do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) e ocupante da Cadeira nº 26 na Academia Campista de Letras (ACL);
-A Orávio de Campos Soares, jornalista, ator, diretor, ocupante da cadeira nº 33 na Academia Campista de Letras (ACL), Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), por fotos e inserção dos Manhães, da Barra do Furado, na sua dissertação de mestrado “Muata Calombo” – consciência e destruição;
-À Sylvia Márcia da Silva Paes, historiadora, mestra em Planejamento Regional e Gestão de Cidades pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) e ocupante da Cadeira nº 04 na Academia Campista de Letras e que teve como única patronesse da ACL, Amélia Gomes de Azevedo.
-Aos Secretários da Prefeitura de Quissamã:
Junio Selem Pinto - Secretário de Obras;
Kitiely Freitas – Secretária de Cultura e Patrimônio; Leonardo Barros – Secretário de Comunicação.
-A Marcelo Batista. Vice-Prefeito de Quissamã.
-À Fátima Pacheco, Prefeita de Quissamã.
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