D O S S I Ê




“Reconhecer as raízes ancestrais é se apropriar da sua herança

e valorizar a própria história.”

Rafael Nolêto (www.pensador.com)



As Famílias Pereira e Manhães, considerando a necessidade honrosa de registrar a trajetória e contribuição de Francisco Manhães da Boa Morte ao Município de Campos dos Goytacazes e Quissamã, tanto do ponto de vista histórico, como do humanístico, APRESENTAM este dossiê para registro no Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes, doravante, IHGCG e Registro no Patrimônio Histórico da Prefeitura de Quissamã, em póstuma homenagem a este homem honrado, proprietário de terras nos dois municípios.

Campos dos Goytacazes/Quissamã, 15 de agosto de 2024. 



INTRODUÇÃO

Segundo o geólogo campista Alberto Ribeiro Lamego, em sua obra “O Homem e o Brejo”, entre o relevo da Serra do Mar e o mar, estende-se a planície campista, cuja cota de altitude é de, em média, 14m acima do nível do mar. As restingas e manguezais correm a costa e protegem o interior dos ventos fortes do mar e da salinidade excessiva.

O rio Paraíba do Sul foi o responsável por depositar, por milhares de anos, sedimentos no fundo mar e a formar a Planície Goitacá. Junto com essa matéria orgânica, vinham também sedimentos que, transportados pelo rio, se acumularam nas áreas rasas do mar e, depois de milhares e milhares de anos, deram origem a essas terras propícias ao plantio da cana-de-açúcar e que são também de boa qualidade para a utilização na indústria ceramista.

Estamos assentados em um território sob o domínio das águas cujo soberano é o rio Paraíba do Sul. Nossa paisagem tem o predomínio da planície costeira cercada por restingas e manguezais.

A restinga se diferencia na paisagem litorânea da região do Norte do Estado do Rio de Janeiro. O geólogo Alberto Lamego, em sua obra “O Homem e a Restinga”, compara a restinga “a matemática de órbitas celestes, repetindo em caminhos terrestres numa engenharia descomunal”. A vegetação arbustiva da restinga se emparelha em faixas de longa extensão que se estendem entre montículos alongados de areais, “simulam o próprio mar” (Lamego, 1974, p. 25) estendendo-se da zona da lavoura canavieira até o mar.

Foi essa paisagem da Baixada Campista a moradia dos primeiros habitantes da nossa região, os bravos indígenas da nação Goitacá.

O Frei Simão de Vasconcelos, em sua obra “A vida do venerável padre José de Anchieta”, que esteve por aqui por volta de 1594, relata que nossos indígenas viviam “nas águas de grandes alagoas” que dominavam seus campos. Eram ferozes guerreiros gigantes e muito bons arqueiros. Viviam nas águas, igual a crocodilos, e por isso receberam o nome “goitacás”.

Contudo, todos descrevem bem a paisagem encharcada da nossa planície entre os rios Itabapoana e Macaé, território sob o domínio goitacá até a chegada do colonizador por volta de 1633, quando teriam os Sete Capitães, donatários da Capitania de São Tomé, erguido um curral e uma choupana de palha em Campo Limpo, que deixaram aos cuidados do índio Valério, com uma vaca e um touro. Em 10 de dezembro, um novo curral foi levantado na ponta do Cabo de São Tomé, deixado sob os cuidados do escravo Antônio Dias com mais um touro e uma vaca, e um terceiro curral, a pouca distância deste, que foi deixado aos cuidados do índio Miguel.

O Capitão Manoel Martins do Couto Reys, em sua obra “Descrição Geográfica, Política e Cronográfica do Distrito dos Campos dos Goitacazes”, de 1785, atesta a região pantanosa que eram os campos dos Goitacás, coberta por alagados, lagoas, charcos e rios que inundavam e fecundavam todo o território.

A expansão da criação de gado aconteceu sob o domínio dos Assecas, donatários da Capitania Paraíba do Sul, ricos empresários do comércio, inclusive de ouro. Com eles, a capitania foi partilhada em sesmarias e distribuída a outros empreendedores menores, favorecendo, assim, a atividade pecuarista dominante. O gado era vendido para regiões mineradoras nas gerais e aqui enriqueceu os donos das terras, contribuindo para a formação de uma poupança interna que fundamentou a atividade agrícola da cana-de-açúcar quando a pecuária enfraqueceu.

Essa proximidade do animal - cavalo e boi - com o homem no campo criou laços tão profundos que se refletiu na linguagem e nas expressões locais, assim como em atividades ligadas ao campo: são as corridas de Cancha Reta, as Cavalgadas, as Festas de Laço e a própria Cavalhada. Desenvolveram atividades associadas, tais como o seleiro - a sela campista, o ferreiro, o laçador profissional e desportista.

Segundo Boris Fausto (1995:78 apud Paes, 2018), em sua obra “História do Brasil”, o cultivo da cana para a produção de açúcar no Rio de Janeiro, especialmente na região de Campos dos Goytacazes, teve expressão após o século XVIII. Até então, a cachaça foi o principal produto, utilizado como moeda de troca no comércio de escravos com Angola. A economia açucareira mudou a paisagem: drenou alagados com a abertura de canais, construiu solares coloniais no campo e sobrados ecléticos na cidade, criou o senhor de engenho e os barões do açúcar. Também nos legou o gosto saboroso dos doces de tradição portuguesa como o chuvisco, nossa referência maior.

Sobre esse chão, o homem daqui, primeiro desenvolveu a pecuária, mais própria aos alagados, o que lhe rendeu pequenas fortunas, a poupança de que necessitariam para iniciar as lavouras de cana-de-açúcar, desde os fins do século XVIII, até meados do século XX, passando pelos estágios de engenhoca, engenho e usina.



       PARTE I

            Nesse chão nasceu em 15 de agosto de 1865, FRANCISCO MANHÃES DA BOA MORTE, filho de Manoel José Manhães de Souza e Mariana Francisca do Espírito Santo. Teve por avós paternos Manoel José Manhães de Souza e Inácia da Conceição e Souza, e, por avós maternos João Ribeiro Moço e Benvinda Maria Moço. Francisco foi o primogênito dos vinte e um irmãos: Alexandrino, José, Filismindo, Antônio, Sabino, Domingos, Joaquim, Manoel, Miguel, Úrsula, Luzia, Rosalina, Catarina, Senhorinha, Mariana, Maria, Maria da Penha, Francisca, Ana e Justina.
          Na verdade, “Boa Morte” não se constitui um sobrenome. É mais uma homenagem por ele ter nascido no dia de Nossa Senhora da Boa Morte, tanto que seus filhos e netos não o têm em seus nomes.

Francisco viveu em um período interessante da história da humanidade: a virada do século XIX para o XX - que foi marcada pela queda dos grandes impérios e pelo avanço das ciências. Na área médica, por exemplo, foi criada a medicina preventiva e os cuidados com a saúde pública; época também marcada por importantes inovações tecnológicas, frutos da revolução industrial como o telefone, a fotografia, o cinema e até o sabonete.

Os direitos civis foram destacados pela abolição da escravidão africana no século XIX e pelo voto feminino no século XX. O Brasil foi pioneiro nas discussões sobre o voto das mulheres na América Latina. Nessa mesma época viveram filósofos e pensadores que criaram teorias e reflexões responsáveis pela mudança de atitudes e padrões da sociedade da época.

A Proclamação da República aconteceu no Brasil em 1889, época em que a sociedade brasileira estava organizada sobre estruturas rurais, com boa parte da população vivendo nas cidades que ainda começavam a organizar seus espaços urbanos: esse momento deu início à construção da nossa identidade como cidadãos brasileiros, não mais como colonos de Portugal. Foi o momento da recuperação econômica, adotando um modelo agrário fortemente sustentado com exportação de café, borracha, algodão e cacau.

Francisco, ainda muito novo, com cerca de vinte poucos anos, casou-se em primeiras núpcias com Inácia Maria de Jesus com quem teve 13 filhos, sendo: Manoel, João, Úrsula, Escolástica, Maria, Mariana, Bento (falecido ainda criança), Alexandre, Ercília, Antônia, Nelson, Lucília e Celeste.

Francisco constituiu segundo núcleo familiar com Francisca Custódia da Conceição por volta de 1916 com quem teve mais 09 filhos: João Francisco, Antônio Francisco, Maria Francisca, Nelly Francisca, Jacy Francisco, Jovita, Haydéa, Arlete e Ney Francisco (falecido na juventude).



Francisca Custódia da Conceição

(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos)


Sua residência na cidade se localizava na Rua Ipiranga, 90, em uma chácara, onde hoje está erguido o Edifício Vila Real, Fornecedora Jacintho e arredores.

Francisco Manhães também é nome de rua em Campos dos Goytacazes, entre a Rua dos Goytacazes e a Rua Marechal Floriano.



(Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto)

        Com a Proclamação da República, as câmaras municipais foram dissolvidas e os governos estaduais nomeavam os membros do "conselho de intendência". Em 1905, cria-se a figura do "intendente" que permanecerá até 1930 com o início da Era Vargas. Nesse momento de entrada da forma republicana de governo, surge no Brasil a figura dos coronéis. Essa foi uma prática sociopolítica brasileira do início do século XX, período conhecido como República Velha que durou até 1930. Os intitulados “coronéis” exerciam o poder local a fim de garantir votos em troca de favores das esferas políticas locais e estaduais.
O coronel Francisco Manhães da Boa Morte foi eleito vereador para o período de 1934 a 1937 tendo recebido a mais expressiva votação daquele ano. Eram os anos que viriam a ser conhecidos pela Era Vargas, com a centralização do poder no Executivo, a política de massas na questão trabalhista, o fortalecimento da propaganda política, sobretudo durante o Estado Novo, e a capacidade de negociação de Vargas que conseguia conciliar grupos com interesses diversos.
Com a Revolução de 1930, as prefeituras assumem a função executiva dos municípios e as câmaras municipais passaram a ter especificamente o papel de casa legislativa.
Nesse momento, no qual os edis ainda não recebiam remuneração pelo cargo que ocupavam, Francisco Manhães viajava a cavalo, duas vezes por semana, do Furado até Mineiros, onde tomava o trem para a cidade, a fim de cumprir as suas obrigações, como parlamentar.
Durante o Estado Novo, entre 1937 e 1945, as câmaras municipais foram fechadas e o poder legislativo dos municípios foi extinto. Com a restauração da democracia em 1945, as câmaras municipais foram reabertas e começaram a tomar a forma que hoje possuem.
Com seu falecimento, seus bens foram deixados em testamento para os 20 filhos, pois Bento -1º matrimônio- faleceu ainda criança, de uma queda de cavalo e Ney Francisco -do 2º núcleo familiar- faleceu na juventude e mais 4 filhas reconhecidas por ele, a saber: Maria Maura, Lídia, Luzia e Idalina. Também deixou bens para dois de seus empregados, em terras e gado, sem, no entanto, definir limites entre os lotes. Suas terras abrangiam uma extensa área entre o Calombê até Flexeira. Ainda hoje alguns de seus familiares manejam o gado e plantam cana-de-açúcar, não mais como no século passado, mas não deixaram suas terras.
Em 15 de agosto de 1965, foi lembrado pela frutífera prole de 120 netos e 52 bisnetos que mandaram esculpir, em bronze, um busto em homenagem ao centenário de nascimento, que foi colocado em frente à primeira residência no Furado, município de Campos dos Goytacazes. Hoje o busto se encontra em Barra do Furado, município de Quissamã. O idealizador da celebração do centenário foi o neto Ayrthon Nery de Souza.


Ayrthon Nery de Souza
(Foto do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon Nery e Mariazinha)



(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco Manhães)


Mais duas placas, em granito, foram colocadas posteriormente, uma delas celebrando o sesquicentenário do patriarca, em 15 de agosto de 2015, idealizada por Jacy Francisco Manhães.


(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos)


A outra placa, também idealizada por Jacy Francisco e colocada na mesma data, 15 de agosto de 2015, é em homenagem à primeira esposa do Francisco Manhães, Inácia Maria de Jesus, que levou terras como dote, dando origem ao patrimônio da Família Manhães.


(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco Manhães)


Por ocasião do centenário e inauguração do busto, estiveram presentes políticos importantes como o deputado Saramago Pinheiro (Fundador da União Democrática Nacional - UDN), Dr. Togo de Barros (deputado constituinte em 1947 pelo PSD e Deputado Estadual em 1954), o ex-prefeito Manoel Ferreira Paes, o prefeito Rockefeller Felisberto de Lima (Deputado Federal/RJ - 1967-1971, ARENA, além de homens do porte do advogado Dr. Arthur Lontra Costa, que fez o discurso oficial de improviso, e do médico Dr. Cardoso de Melo que compareceram para lhe prestar a homenagem póstuma e proferir discursos pela ocasião. O seu neto Ayrthon Nery de Souza foi o orador oficial representando a família.
Hoje, 15 de agosto de 2022, em homenagem aos 157 anos de nascimento do coronel Francisco Manhães, seus familiares irão restaurar o busto que se encontra em frente à Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na localidade de Barra do Furado, no município de Quissamã. A peça escultórica foi retirada do antigo local, pois a antiga residência do Coronel já não pertence mais a familiares seus.


Barra do Furado, no município de Quissamã, está localizada na extremidade sudeste, na foz do Canal das Flechas.

   (Foto acessada no Youtube: https://i.ytimg.com/vi/9QtKHv-Gm8I/maxresdefault.jpg)


 
      (Foto acessada no Youtube: https://www.google.com/maps/@-22.0963476,
            - 41.138336,15z?entry=ttu)


A pedido de Francisco Manhães, o genro Júlio César de Freixo Lobo, casado com Lucília Manhães Lobo, redigiu o documento para instalação de um Colégio na Barra do Furado - atual Escola Municipal Délfica de Carvalho Wagner, em homenagem à primeira professora daquela geração e de muitas outras.

A Capela dedicada à Nossa Senhora da Boa Morte foi construída em terreno doado pelo Sr. Francisco, que também a construiu com a colaboração das senhoras Haydéa Peixoto Grain, Isabel Peixoto Crespo e Isabel Sampaio Peixoto.

A imagem da Nossa Senhora deitada foi presente de uma família portuguesa a Francisco Manhães, pois em muitas outras imagens ela é representada de pé.

Mais tarde, seguindo os passos do patriarca, familiares doam terreno para a construção do Posto Médico “Mário Barros Wagner”, por sua esposa Nelly Francisca Manhães Wagner; também o terreno da atual Escola Municipal “Délfica de Carvalho Wagner” foi doado pelo filho de Francisco, Alexandre Pereira Manhães, no 1º segmento, e quando da ampliação física da referida Unidade Escolar, o 2º segmento foi doado pela Sra. Nelly Francisca Manhães Wagner.

A sua influência na localidade foi tamanha que nomeia a Avenida principal – Av. Francisco Manhães da Boa Morte.


      Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)


Também outros familiares de Francisco Manhães foram homenageados com nomes de rua, na Barra do Furado:

                                                              Chico Vovô
             (Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)



                              Lionícia Pereira Manhães – Nora de Francisco Manhães
              (Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)



MEMÓRIAS AFETIVAS

Em 25 de junho de 2022, representantes da família se reuniram em Barra do Furado, onde se encontra o busto do Sr. Francisco Manhães, para organizar os festejos previstos para a data de 14 de agosto, dia de Nossa Senhora da Boa Morte, quando então, prestam novas homenagens ao patriarca da família. Desse momento, muitas memórias afetivas vieram à lembrança.

 

Lembranças de Ana Beatriz Manhães Pinto – bisneta

A imagem de Nossa Senhora da Boa Morte exposta na Igreja do mesmo nome foi presente de amigos ao coronel, que a trouxeram de Portugal.

Lembranças de Nilda Maria Manhães Pinto - neta

Lembra com carinho que quando ia até o Sr. Francisco pedir a benção ele sempre respondia – “Deus te abençoe, meu a njinho”, o que fortalece o lado carinhoso de uma das pessoas mais significativas da Baixada Campista.

Lembranças de Milton de Freixo Lobo – neto

Sr. Milton, neto do coronel, filho de Lucília, que hoje reside no Rio de Janeiro, se lembra com afeto do senhor Lino Açucena, que fazia a travessia em sua canoa do Furado para a Barra do Furado, muito lembrado por atravessar as crianças que iam para a escola da Prof.ª Délfica. Naquele tempo, o rio era largo e profundo e os pais confiavam nele. Anos depois existiu outro canoeiro alcunhado de “Cai N`Água” muito popular também.

Também se lembra da casa junto ao rio do Espinho, com um coqueiral e um engenho já abandonado, em que já se fizera açúcar mascavo e melaço.

O coqueiral, ao anoitecer, às vezes abrigava bandos barulhentos de aves de arribação. O tuiuiú, como habitante dos alagados, era caçado na região.

Seu pai, Júlio Cesar de Freixo Lobo, veio do Rio de Janeiro para ser radiotelegrafista no chamado Rádio Velho, em Farol de São Tomé e através do código morse orientava as embarcações em áreas submersas dos baixios da Barra do Furado, que era considerada área perigosa para os que transitavam em nossa costa.

Lembra também o Sr. José Chagas que, inicialmente trabalhando no serviço manual de remoção de moitas nas águas que corriam da Lagoa Feia para a barra, formou uma empresa que, por muitos anos, em conjunto com o DNOS, executou a drenagem em vasto território do Estado do Rio de Janeiro.

Lembranças de Zilda Venâncio Petrucci

Maria, uma das filhas do coronel, casada com o Sr. João Ribeiro, é a madrinha de Zilda.

Sr. Vicente, casado com Mariana, genro do coronel Francisco, foi dono da afamada cachaça Furadense.

Sr. Alexandre, casado com dona Felisminda, morava na Rua Sete de Setembro com os filhos Cinésio e Dilma.

Lembranças de Sylvia Paes

Eu me lembro, quando menina, de ter ido em um domingo, junto com meus pais, até a casa da família em Barra do Furado saborear camarões deliciosos, em companhia da família de Sr. Ninico, querido compadre de meus pais, fazendeiro em Santo Amaro. Ao chegar, me chamou a atenção o degrau da entrada da cozinha com um desenho que mais tarde fiquei sabendo ser um marco jesuíta usado para demarcar suas terras na Baixada Campista. Na entrada do Palácio da Cultura, na sede do município, tem uma pedra com o marco jesuíta, como aquela do degrau que eu vi, também recolhida daquela região. 


PARTE II

UM DIA ESPECIAL

14 de agosto de 2022 foi um dia especial. A família Manhães se reuniu após a missa solene em celebração ao dia da padroeira da Barra do Furado, Nossa Senhora da Boa Morte. Muitos da família há muito não se viam ou mesmo nem se conheciam, pois, a família numerosa foi migrando para outras cidades e Estados. Emocionante o encontro e até mesmo inesquecível. 

Nos preparativos, desde 25 de julho do mesmo ano, ideias foram surgindo tais como, camisas personalizadas com a foto do nosso patriarca Francisco e no verso da mesma o BRASÃO da Família Manhães.

E, assim, nos reunimos no domingo, após a missa solene celebrada pelo padre Mauro Nunes, da Diocese de Friburgo, à qual pertence a Paróquia de Quissamã, que gentilmente atendeu ao pedido da bisneta Ana Beatriz, filha de Nilda Manhães, para que a celebração fosse no domingo e não no sábado como é da rotina.

Como cerimonialista foi convidado o jornalista, escritor, professor e palestrante admirável Avelino Ferreira que, ao lado do busto e tendo ao seu redor “os Manhães” iniciou discorrendo sobre a importância do ato cultural para as gerações porque homenagear os antepassados, reconhecer um exemplo de vida é de grande importância, as raízes têm que ser cultivadas como forma de aprimoramento humano.


AVELINO FERREIRA
(Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto)


                  Leonice Pereira recebendo flores da Secretária de Cultura e Patrimônio,
     Kitiely Freitas e do vice prefeito Marcelo Batista, em nome da prefeita, Fátima Pacheco.
                                 (Foto do acervo público da Prefeitura de Quissamã)


        A seguir, convidou a historiadora Sylvia Paes para que apresentasse seu brilhante trabalho sobre esse chão tão rico, passando pelos primeiros habitantes e pelos 07 Capitães, discorrendo na sua fala, sobre os primórdios da região costeira com suas restingas, brejos e manguezais e a futura vocação para a lavoura canavieira dando, assim, início ao dossiê no qual Francisco Manhães foi a figura principal.
        A Família Manhães ofereceu-lhe flores e agradeceu sua prestimosa contribuição.

                                                      Historiadora Sylvia Paes
                                      (Foto do acervo de Leonice Pereira Barreto)


A Prefeitura de Quissamã se fez presente pelo Vice-Prefeito, Marcelo Batista e dos Secretários Municipais, Kitiely Freitas -Secretária de Cultura e Patrimônio-, Leonardo Barros -Secretário de Comunicação e Junio Selem Pinto -Secretário de Obras -representando a Prefeita Fátima Pacheco:


                   Com a palavra Kitiely Freitas – secretária de Cultura e Patrimônio
                                                da Prefeitura de Quissamã
                               (Foto do acervo público da Prefeitura de Quissamã)


No momento o neto, Célio Manhães Wagner, com a palavra.
(Foto do acervo público da Prefeitura de Quissamã)


Da esquerda para a direita: Leonardo Barros -Secretário de Comunicação; Junio Selem Pinto – secretário de obras; Kitiely Freitas -Secretária de Cultura e Patrimônio; Manhães de Quissamã –bisneto; Celio Manhães Wagner –neto; Marcelo Batista - vice-prefeito e Gilda Manhães -bisneta


Avelino também registrou a presença da professora, atriz e Vice-Presidente da Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima, Fernanda Campos, do Município de Campos dos Goytacazes.
Prosseguindo, o cerimonialista Avelino discorreu sobre o legado do Francisco Manhães da Boa Morte, seus descendentes, sua eleição para vereador da Câmara Municipal de Campos, no período de 1934 a 1937.
E, ainda, relatou a visão futurista do Francisco Manhães quando a seu pedido foi instalada a primeira escola na Barra do Furado e que sua influência em outros acontecimentos locais resultou em homenagem quando denomina a principal avenida, Av. Francisco Manhães da Boa Morte.
A partir desse momento a programação foi interativa quando foram distribuídos pequenos textos aos familiares que se revezaram fazendo leitura de fragmentos referentes à passagem do Francisco por esse chão, a seguir:
Célio Manhães Wagner, neto de Francisco, falou com conhecimento de fatos ocorridos na época da inauguração do busto, em 1965, ainda no município de Campos, por iniciativa do neto Ayrthon Nery de Souza citando também, autoridades municipais e estaduais presentes naquele ato;
Luiz Geraldo Manhães, neto e Paula Manhães, bisneta fizeram leitura da Biografia de Francisco;
Rosinéria Manhães, trineta, leu a Carta de Araxá enviada por Francisco em 06 de abril de 1944 aos filhos Jacy Francisco e Antônio Francisco, quando em período anual de “Estação de Águas”.


                                    Terezinha Regina – filha de Domingos Manhães
                                 (Foto do acervo público da Prefeitura de Quissamã)


                                                             Gilda – filha de Nilson Manhães
                                  (Foto do acervo público da Prefeitura de Quissamã)


Avelino, cerimonialista, leu e comentou a ata de uma sessão na Câmara de Vereadores de Campos, na qual Francisco estava presente, cumprindo seu mandato;
Celeste Regina Manhães, bisneta e filha de Alceste Manhães, prestou sua homenagem em forma de Ikebana, arranjo floral, uma arte milenar japonesa cultivada na Igreja Messiânica Mundial da qual é membro.

SAUDAÇÃO DE CELESTE REGINA:
Bom dia a todos!
É com muita honra, gratidão e alegria que faço a minha homenagem ao meu Bisavô e aos meus antepassados com uma Ikebana.
A Ikebana é uma arte milenar japonesa, que significa flores vivas.
A Ikebana do estilo Sanguetsu da Igreja Messiânica Mundial do Brasil, da qual sou membro, é composta de folhas, galhos e flores, respeitando a grande Natureza.
Ela serve não somente para adornar o ambiente, mas acima de tudo para equilibrar a mente, acalmar os sentimentos e enobrecer o caráter tanto da pessoa que a confecciona, quanto de quem a aprecia.
A flor, alegra a vida, proporciona paz interior e traz harmonia!
Ikebana é arte que promove felicidade! Muito obrigada!

Ikebana
(Foto do acervo pessoal de Celeste Regina Manhães)


Com a palavra Celeste Regina Manhães, filha de Alceste Manhães
(Foto do acervo pessoal de Celeste Regina Manhães)


Prosseguindo a interação familiar, Caettano Manhães Del Negri, neto de Manhães de Quissamã; Terezinha Regina, de Tanguá, filha de Domingos Manhães; Gilda, filha de Nilson Manhães; Mariana, trineta e filha de Ana Beatriz Manhães fizeram leitura de uma publicação do Jornal Folha do Povo, onde o jornalista João Rodrigues de Oliveira relata a consternação do dia 27 de dezembro de 1951 quando Francisco desaparece...
Encerrando a solenidade de instalação do busto, agora em solo quissamaense, a Prefeitura de Quissamã nos presenteou com a execução do Hino Nacional Brasileiro, que foi acompanhado por todos os presentes.


PARTE III 

BIOGRAFIA

FRANCISCO MANHÃES DA BOA MORTE, nascido em 15 de agosto de 1865, filho de Manoel José Manhães de Souza e de Mariana Francisca do Espírito Santo, de cuja união nasceram 22 filhos: Francisco, Alexandrino, José, Felismindo, Firmino, Antônio, Sabino, Domingos, Joaquim, Manoel, Miguel, Úrsula, Luzia, Rosalina, Catarina, Senhorinha, Mariana, Maria, Maria da Penha, Francisca, Ana e Justina.
Casado em primeiras núpcias com Inácia Maria de Jesus tendo nascido dessa união 13 filhos: Manoel, casado com Lionícia; João, casado com Maria da Conceição; Úrsula, casada com Moisés Ferreira; Escolástica, casada com Manoel Domingos; Maria, casada com João Ribeiro; Mariana, casada com Vicente Ribeiro; Bento (morto na adolescência ); Antônia, casada com Amaro Domingos e depois de viúva, casou-se com Manoel Machado; Alexandre, casado com Felisminda Sales; Ercília, casada com José Francisco Pinto; Nelson, casado com Maria Alves; Celeste, casada com Edvar Ferreira e Lucília Manhães Lobo, casada com Júlio César de Freixo Lobo.
Constituiu um segundo núcleo familiar com Francisca Custódia da Conceição, tendo dessa união 09 filhos: João Francisco, casado com Nice; Antônio Francisco, casado com Benilda; Jacy Francisco, casado com Celi; Maria Francisca, casada com Francisco Rangel; Nelly Francisca, casada com Mário Wagner; Jovita, casada com Amaro Chagas; Haydéa, casada com Durval Pereira e Arlete, casada com José Sabino e José Ney Francisco (falecido na juventude).
Dividiu seus bens -em testamento- com todos os filhos citados e mais 04 filhas: Maria Maura, Lídia, Luzia e Idalina, que reconheceu como suas filhas, aquinhoando-as com vários alqueires de terra do seu imenso patrimônio, não se esquecendo de deixar em legado a dois de seus trabalhadores, um com 03 alqueires e outro com várias vacas com crias.
Por ocasião do centenário do nascimento, em 15 de agosto de 1965, os 120 netos e 52 bisnetos comemoraram a data perpetuando em bronze estátua, que se acha implantada em frente à sua primeira residência, no Furado, 3º distrito de Campos, onde, foram ouvidos, vários oradores, entre eles os doutores: Togo de Barros, Cardoso de Melo, Ferreira Paes, o prefeito Rockfeller de Lima, o deputado Saramago Pinheiro e o Dr. Arthur Lontra Costa.
Eleito Vereador à Câmara Municipal de Campos, em 1934 a 1937, com votação extraordinária (o mais votado da época), viajava a cavalo 02 vezes por semana do Furado até Mineiros, onde embarcava no trem que vinha de Santo Amaro. SEM NENHUMA REMUNERAÇÃO.

RELAÇÃO DOS FILHOS E NETOS DE FRANCISCO MANHÃES DA BOA MORTE:
PRIMEIRO CASAMENTO - 13 FILHOS

01- FILHOS DE MANOEL PEREIRA MANHÃES:
JOAQUIM PEREIRA NETTO INÁCIA DE JESUS AZEVEDO
LALI PEREIRA MANHÃES BARRETO MARIA JOAQUINA MANHÃES BARRETO JOSÉ MANOEL DOS ANJOS MANHÃES FRANCISCO PEREIRA MANHÃES BENTO PEREIRA MANHÃES
JOSÉ SALLES MANHÃES

02- FILHOS DE JOÃO PEREIRA MANHÃES:
EDITE MANHÃES VIANA EDINA MANHÃES
EDIVA MANHÃES NOGUEIRA EDSON MANHÃES
EDNÉIAS MANHÃES
EDIMA MANHAES DA SILVA EDNIR MANHÃES AZEREDO

03- ÚRSULA PEREIRA MANHÃES

04- FILHOS DE ESCOLÁSTICA PEREIRA MANHÃES
INÁCIA MANHÃES JUSTINIANO GENÁSIO MANHÃES DE SOUZA AMARO MANHÃES DE SOUZA FRANCISCO MANHÃES NETO MARIA RITA MANHÃES SOARES JUREMA MANHÃES DE SOUZA NILDA MARIA MANHÃES PINTO NOÊMIA PEREIRA MANHÃES BENTA MANHÃES DE SOUZA DOMINGOS MANHÃES DE SOUZA HOZÉLIA PEREIRA DO AMARAL GERALDO PEREIRA MANHÃES

05- FILHOS DE MARIA PEREIRA MANHÃES
IRINEU MANHÃES RIBEIRO MOACYR MANHÃES RIBEIRO ERENEAS MANHÃES RIBEIRO ARACY RIBEIRO DOS SANTOS JURACY RIBEIRO AZEVEDO ADAHIL MANHÃES RIBEIRO JOÃO RIBEIRO FILHO
SILVIO MANHÃES RIBEIRO HERALDO MANHÃES RIBEIRO ADÉLIA MANHÃES RIBEIRO

06- FILHOS DE MARIANA PEREIRA MANHÃES
ANA MANHÃES RIBEIRO DE ANDRADE INACIA MANHÃES DA SILVA
MARIA DA PENHA RIBEIRO DE SOUZA MAGNO RIBEIRO MANHÃES
ERCILIA RIBEIRO MANHÃES IRINÉA MANHÃES CORDEIRO

07- BENTO PEREIRA MANHÃES (falecido na infância)

08- FILHOS DE ALEXANDRE PEREIRA MANHÃES
CINÉZIO SALES MANHÃES DILMA SALES MANHÃES

09- FILHOS DE ERCILIA MANHÃES PINTO
JOSÉ FRANCISCO MANHÃES PINTO LÊDA PINTO LUCAS
LIA PINTO SIQUEIRA FRANCISCO JOSÉ PINTO LUCY MANHÃES PINTO
SONIA MARIA MANHÃES PINTO

10- FILHOS DE ANTÔNIA MANHÃES MACHADO
AYRTHON NERY DE SOUZA MARIA AYRTES DE SOUZA MARIA AMARITA DE SOUZA
MARIA ARLETE MANHÃES DE SOUZA FRANCISCO DE ASSIS MANHÃES MACHADO LENI DA CONCEIÇÃO MANHÃES MACHADO

11- FILHOS DE NELSON PEREIRA MANHÃES
NILSON ALVES MANHÃES JOSÉ ALVES MANHÃES JURACY ALVES MANHÃES JUREMA MANHÃES CHAGAS JOCELIA MANHÃES VILELA

12- FILHOS DE LUCILIA MANHÃES LOBO
EGYDIO CESAR FREIXO LOBO MILTON DE FREIXO LOBO LUCY LOBO FERREIRA MOACYR FREIXO LOBO

13- FILHOS DE CELESTE MANHÃES FERREIRA
ALCESTE MANHÃES FERREIRA EDILETE FERREIRA LOBO

FRANCISCO MANHÃES constituiu 2º núcleo familiar com FRANCISCA CUSTÓDIA DA CONCEIÇÃO - 09 FILHOS:

01- FILHOS DE JOÃO FRANCISCO MANHÃES
LENILTON MANHÃES LENICE MANHÃES LUCIEMA MANHÃES LUCIANO MANHÃES LEÔNCIO MANHÃES LAURI MANHÃES CARLITO MANHÃES JOÃO CESAR MANHÃES LUCIMEIA MANHÃES ROSANE MANHÃES
MARCEL ARTURIO MANHÃES

02- FILHOS DE ANTÔNIO FRANCISCO MANHÃES
ANTÔNIO FRANCISCO MANHÃES FILHO JOSÉ MARTINS MANHÃES
LUIZ CARLOS MARTINS MANHÃES CRISTIANA MARTINS MANHÃES ISABEL CRISTINA MARTINS MANHÃES FRANCISCO NEY MARTINS MANHÃES JOÃO MARCOS MARTINS MANHÃES CARLOS AUGUSTO MARTINS MANHÃES ANA LUCIA MARTINS MANHÃES

03- FILHOS DE MARIA FRANCISCA MANHÃES RANGEL
VERA MANHÃES DA SILVA RIZETE MANHÃES DA SILVA

04- FILHOS DE NELLY FRANCISCA MANHÃES WAGNER
RAUL ETHIENNE MANHÃES WAGNER CÉLIO MANHÃES WAGNER
MÁRIO MANHÃES WAGNER RONAN MANHÃES WAGNER CÉLIA MARIA MANHÃES WAGNER

05- FILHOS DE JACY FRANCISCO MANHÃES
ÂNGELA MARIA CHAGAS MANHÃES SONIA MARIA CHAGAS MANHÃES CARLOS CHAGAS MANHÃES
CELSO CHAGAS MANHÃES JACY CHAGAS MANHÃES

06- FILHOS DE JOVITA MANHÃES CHAGAS
LUIZ AMARO CHAGAS CELME MANHÃES MACIEL JOSÉ NEY MANHÃES CHAGAS
TELMA MANHÃES CHAGAS MOTA

07- FILHOS DE HAYDÉA MANHÃES PEREIRA
VALDÉIA MANHÃES PEREIRA SOLANGE PEREIRA MANHÃES ROSA MARIA MANHÃES PEREIRA
ANA MARIA MANHÃES PEREIRA DE AZEVEDO FERNANDO MANHÃES PEREIRA

08- FILHOS DE ARLETE MANHÃES SALES
LUIZ CLÁUDIO MANHÃES SALES CLÁUDIA MÁRCIA MANHÃES NUNES

09- JOSÉ NEY FRANCISCO MANHÃES (falecido na juventude)

O Velho Chico teve mais 4 filhas, das quais estamos buscando sua filiação: Maria Maura, Lídia, Luzia e Idalina.


RELATOS COLHIDOS NO DIA 25.06.2022 EM REUNIÃO COM A FAMÍLIA MANHÃES

- Idealizador da 1ª Placa em bronze, no Centenário em 15. 08. 1965 – Ayrthon Nery de Souza

- Na inauguração do busto, por ocasião do centenário de nascimento, o Dr. Arthur Lontra Costa proferiu um discurso de improviso, como fazia todos os anos por ocasião do aniversário de Francisco Manhães e, ao final, Ayrthon, neto, agradeceu pela família.

- No local da antiga chácara de Francisco Manhães, na Rua Ipiranga, 90, em Campos, hoje está erguido o Edifício Vila Real.
(Informações passadas pelo neto Geraldo Pereira Manhães)

Colaborações enviadas por Milton de Freixo Lobo, neto do coronel, que reside no Rio de Janeiro:

1 - Quem foi Lino Açucena?
Atravessava pessoas na sua canoa do Furado para a Barra do Furado, muito lembrado por atravessar as crianças que iam para a escola da Profª. Délfica, naquele tempo o rio era largo e profundo. Os pais confiavam nele. Anos depois existiu outro canoeiro chamado “Cai N`Água” muito popular também;

2 - A pedido de Francisco Manhães da Boa Morte, o genro Júlio César de Freixo Lobo, casado com Lucília Manhães Lobo redigiu o documento para instalação do Colégio, na Barra do Furado, que é a atual Escola Municipal Délfica de Carvalho Wagner e do qual foi a 1ª professora daquela geração;

3 - Quem foi Júlio Cesar de Freixo Lobo?
Veio do Rio de Janeiro para ser rádio-telegrafista no chamado Rádio Velho, em Farol de São Tomé e através do código morse orientava as embarcações em áreas submersas dos baixios da Barra do Furado, que era considerada área a ser saneada.

Francisco Manhães teve 13 filhos, do 1º casamento, sendo que o filho chamado Bento, faleceu ainda moço tendo como causa uma queda de cavalo.
(Colaboração da neta Nilda Maria Manhães Pinto)


(Foto do acervo da historiadora Sylvia Paes)


A historiadora Sylvia Paes em reunião com a família Manhães em 25.06.2022, 
na Praça da Barra do Furado.
(Foto do acervo pessoal da historiadora Sylvia Paes)


Francisco Manhães com as irmãs Senhorinha e Luzia, 1932
(Foto do acervo de Amaro Vicente e Martha)



Francisco Manhães da Boa Morte saindo para viajar, 1936.
Em frente à casa do Furado
(Foto do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha)




(Foto do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon Nery de Souza e
Mariazinha)


ATA da Reunião da Câmara de Vereadores




- Transcrito -

ACTA da Reunião para compromisso e posse de Vereadores, installação da Câmara Municipal de Campos, e eleição de Presidente e Vice-Presidente e 1º e 2º Secretários na forma abaixo:
Aos treis dias do mês de agosto de mil novecentos e trinta e seis, nesta cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, na Sala de Sessões da Câmara Municipal, às quatorze horas, presente o Excelentíssimo Senhor Doutor LUIZ DA Silveira Paiva, Juiz de Direito mais antigo em exercício nesta Comarca como Presidente, foi por este declarada que ia dar cumprimento ao disposto no art. 28 e seus parágrafos da Lei nº 44, de 16 de junho de 1936, e, convidando à mesa Bartholomeu Lyzandro de Albernaz, como vereador eleito, para servir de Secretário, convidou os Vereadores diplomados a apresentarem os seus diplomas, tendo atendido ao convite os seguintes: Francisco Manhães da Boa Morte, Dr. Renato Nunes Machado, Jorge Pereira Pinto, Gualberto Bicudo da Silva, Antonio Salgueiro Júnior, Antonio Gonçalves Coutinho, Gervásio de Vasconcellos Cordeiro e Bartholomeu Lyzandro de Albernaz. Em seguida prestaram compromisso perante o Meritíssimo Presidente, cada um por sua vez, os mesmos Vereadores, proferindo a afirmação legal: “Affirmo bem desempenhar as funções de Vereador, sustentar e promover, quanto em mim couber, a felicidade pública” – nesta ordem: Francisco Manhães da Boa Morte, Dr. Renato Machado, Gualberto Bicudo da Silva, Jorge Pereira Pinto, Antonio Salgueiro Júnior, Antonio Gonçalves Coutinho, Gervásio Vasconcellos Cordeiro, Bartholomeu Lyzandro Albernaz. Tomados os compromissos de todos o Meretíssimo Presidente os declarou empossados e installada a Câmara Municipal de Campos. Convidou, então, os Vereadores a elegerem, por escrutínio secreto, o Presidente, o Vice-Presidente e o 1º e 2º Secretários da Camara. Nesta ocasião, o Meritíssimo Presidente entregando a cada um dos Vereadores empossados uma sobrecarta, pediu a cada um de per si, se dirigisse ao gabinete indevassável, e lá collocasse sua sobrecarta official, modelo 17, por elle rubricada, a cedula para eleição do cargo de Presidente. Recolhidos os votos dados em escrutínio secreto a uma urna fechada, que, aberta, verificou-se o resultado seguinte: Para Presidente: Dr. Renato Nunes Machado, oito votos; pela mesma forma procedeu-se em relação à eleição Para Vice-Presidente, sendo eleito o Vereador Antonio Gonçalves Coutinho por oito votos; para 1º Secretário o Vereador Bartholomeu Lyzandro de Albernaz, que foi eleito por oito votos, e para 2º Secretário foi eleito o Vereador Gervásio de Vasconcellos Cordeiro, por oito votos. Os eleitos eram proclamados à proporção que era conhecido o resultado da eleição, e o Meretíssimo Senhor Dr. Luiz da Silveira Paiva felicitou os vereadores presentes fazendo um apello aos mesmos para que não medissem sacrifícios para promoverem a prosperidade deste município, porque deste modo terão os applausos de todos e as bênçãos de Deus. Terminando seu discurso convidou o Dr. Renato Nunes Machado para assumir a Presidência o que foi feito sob uma salva de palmas. Assumiu a presidência o Dr. Renato Nunes Machado que, usando da palavra, após agradecer as palavras do Dr. Juiz de Direito, disse que a nova vereança tudo faria pelo progresso de Campos. A seguir usou da palavra o Sr. Vereador Jorge Pereira Pinto, que produziu substancioso discurso, discorrendo acerca das obras que têm sido empreendidas neste Município, digo de Campos, encerrado os trabalhos Eu Horácio Souza, official de [ilegível] escrevi.
        A seguir Assinatura dos Vereadores.

(Do acervo pessoal da neta Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco Manhães)
(Transcrita pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)


Francisco Manhães da Boa Morte (à esquerda) em reunião na Câmara
de Vereadores de Campos/RJ, no ano de 1937.
(Foto do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon Nery de Souza e Mariazinha)


CARTA DE ARAXÁ

- Enviada aos 2 filhos, quando em período de estação de águas – Araxá/MG -

Único manuscrito encontrado pela família


Carta de Araxá
João Francisco e Jacy Manhães

        Que ao chegar esta carta ache todos com saúde e paz é o que desejo e tudo mais correndo bem fasso votos para isto. Vivendo ahi lembro-me de algumas couzas e outras não, voces quando ouver tempo plantar canas em aquelas baixadas da rossa do Calombê mesmo entre os pés de Bananas, não muito encostado ao bardo, apanhando cana Cuba e Cristalina aonde ouver na Castanheta onde Mario Wagner ofereceu uma raça de cana 210 [ilegível], assim como esqueceu-me de perguntar a Jacy pela rossinha de baixo se já secou, cortar os [ilegível] pés limpar e plantar milho e feijão se for possível. Nós chegamos aqui hoje as 11 horas da manhã saímos de Belo orizonte as 4 da tarde sem parar um pouco apertado por não havia o que comer ontem jantamos pão com queijo hoje almossamos queijo com pão isto atte comermos aqui no otel as 2 horas.
        Que mais pesso dar notícias aos [ilegível] e lembranças [ilegível] a todos dahi pesso mais que não deixe de ir sempre ao Furado ver aquilo por lá lembranças a tia Luzia tia Senhora Antonia e as meninas diser Ayrton que se for possível ele [ilegível] Antônia mãe dele que [ilegível] porque não sei o endereço do teu pai e [ilegível]. Sem mais abraços a todos do teu pai e amigo.
        Sem mais abraços a todos.
[ilegível] Francisco Manhães da Boa Morte 06/04/1944

(Do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco) 
(Transcrita pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)


FALECIMENTO



RÁDIO CAMPISTA AFONSIANA LTDA.

RUA VISCONDE DO ITABORAÍ, 154

Campos – Est. do Rio

            FOLHA DO POVO – 6ª feira - 28-12-1951

        Desaparece uma das mais respeitáveis figuras da Baixada Fluminense – chefe de uma grande e conceituada família, Chefe Político que se fazia acatar pela inteireza do seu caráter e equilíbrio de atitudes – Será enterrado em Santo Amaro, o Cel. F. M. DA B. MORTE.

        Uma das mais respeitáveis figuras da Baixada Fluminense acaba de desaparecer do nº dos vivos, o coronel Francisco Manhães da Boa Morte. Lavrador por tradição e por vocação, o cel. Chico Manhães nasceu, viveu e fez questão de morrer como trabalhador do campo, plantando e criando, enriquecendo o seu berço natal e cuidando devotadamente da família, das mais numerosas e unidas, sempre por ele norteada, já que nada faziam de importante seus filhos e netos, genros e amigos, sobrinhos ou afilhados, sem que antes ouvissem a palavra considerável e segura do chefe e amigo, que era o velho e venerável Cel. Boa Morte.

          O POLÍTICO

        Quando vemos nos dias de hoje, terra campista sem um verdadeiro chefe político, lamentamos o desaparecimento de F.M. da B.M. Durante muitos anos e até bem pouco, por mais intrincadas que fossem os “casos” por mais renhidas que fossem as pendengas, logo terminavam na paz com a intervenção desse homem simples e extraordinário, que as dirimia com a imparcialidade e saber de um Salomão e, ao mesmo tempo, transformava, num instante, inimigos irreconciliáveis em amigos para todo o sempre. Era o verdadeiro chefe do 3º distrito, notadamente em Santo Amaro, São Martinho e Barra do Furado, Assu, etc. Em 1934 candidato a vereador pelo seu distrito, alcançou a mais espetacular votação jamais alcançada em toda a Baixada. Escolhido presidente da Câmara, não aceitou o alto posto, preferindo ficar fora da Mesa, como companheiro dedicado do General Cristóvão Barcelos, de Arthur Lontra Costa, etc. Ultimamente, com a idade avançada, afastou-se um tanto das lides partidárias, mas ainda assim sua voz era ouvida e acatada, porque era sempre e antes de tudo a voz do bom senso, da experiência e do patriotismo. Fundado o Part. Soc. Bras, nele ingressou, assim como vários dos seus filhos, netos, sobrinhos e genros. Apesar de senhor de muitas terras, muito gado e muita lavoura, o cel. Boa Morte jamais foi um reacionário. O que era seu era de todos. Em cada empregado tinha um amigo em cada auxiliar um colaborador dedicado e leal.

        DESCENDÊNCIA

        Era casado em segundas núpcias com Dona Francisca M. que deixa viúva.

        Faleceu às 13h30 horas, aos 86 anos de idade cercado pelo carinho dos seus e do respeito de toda sociedade campista.

        Deixa os seguintes filhos: Manoel, Alexandre, Nelson, João, Escolástica, Úrsula, Mariana, Ercília, Lucília, Antônia e Celeste Pereira Manhães (1º matrimônio) e, mais João Francisco, Antônio Francisco, Jacy Francisco, Ney, Maria Francisca, Nely, Jovita, Haydéa e Arlete Pereira Manhães (2º matrimônio). Deixa também mais de 80 netos e mais de 20 bisnetos.

          HAVERES

       O Cel. Chico Manhães lega a seus herdeiros largos haveres fruto de anos e anos de trabalho intenso e honrado. Entre as suas propriedades se contam “Pao Grande”, “Furado”, “Castanheta” e “Machado” situadas nos municípios de Campos e Macaé.

        O ENTERRAMENTO

        Seu enterro se dará hoje, saindo o corpo, em trem especial, às 10 horas da manhã, da Estação, para Santo Amaro em cujo campo santo será sepultado.

        A Folha do Povo, que tinha no cel. B. Morte e tem nos seus descendentes dedicados e amigos e colaboradores, associa-se muito sinceramente ao pesar dos que choram o seu passamento, e que são, por certo, todos eles os homens da rica e laboriosa Baixada Campista.

        Mais de mil pessoas o acompanharam ao cemitério de Santo Amaro.

        Homenagem da Câmara Municipal. Era um verdadeiro patriarca da Baixada. 

        Verdadeira consagração recebeu ontem a figura pouco comum do Cel. Francisco Manhães da Boa Morte, campista de velha têmpera, verdadeiro patriarca da Baixada Campista. Logo que correu pela cidade e desta até Santo Amaro a notícia do seu passamento, homens de todas as condições sociais foram até sua residência, na Rua Ipiranga, 90, para tributar-lhe as últimas homenagens e para testemunhar a seus filhos netos, bisnetos, genros, noras, sobrinhos, afilhados, etc. quanto era estimado e acatado aquele varão de 86 anos, vividos inteiramente a serviço do bem e do próximo.

     Entre os que estiveram na chácara da rua Ipiranga e os que compareceram ao seu funeral a reportagem pode contar mais de mil pessoas. E em Santo Amaro, onde foi enterrado o corpo do cel. Boa Morte, todas as atividades foram interrompidas para que toda gente levasse ao grande amigo e conselheiro o seu adeus, a sua despedida, muita tristeza. Ao baixar o corpo à sepultura, discursou o nosso ilustre confrade Ulisses Martins – Homenagem da Câmara – O dr. Maximino Ferreira Ramalho, presidente da Câmara Municipal de Campos, interpretando o sentimento dos senhores vereadores, e desejando dar uma demonstração de pesar pelo falecimento do ex-vereador Francisco M. da B M., ante-ontem ocorrido, resolveu suspender o expediente do Legislativo, por três dias, tendo, em Comissão com os edis Manoel Pereira Gonçalves e Amaro Soares acompanhado os funerais representando a Câmara. Entre os que visitaram o corpo do Cel. Boa Morte, arrolamos o Dr. Pereira Rebel, Procurador Geral do Estado.

        GRINALDAS

       O trem especial que levou o querido morto até Santo Amaro, conduziu muitas “corbeilles” de flores, entre as quais pudemos anotar as enviadas por: Barros Barreto e família, Departamento Nacional de Obras e Saneamento, Artur Lontra Costa,, Sr. Dito e família, Maria da Conceição e filhos, Francisca Custodia da Conceição (esposa) e filhos, Irmãos Martins, Arialdo Ribeiro, Helson Souza, Alexandre Batista e família, Ageu Macabu e família, José Francisco Pinto, Hercília e filhos, Celso de Souza e família, Nelson Manhães e família, Antonio Manhães, esposa e filhos, Escolástica Manhães e família, Úrsula Manhães e esposo.

(Do acervo pessoal de Celeste Regina Manhães, filha de Alceste Manhães)
(Transcrito por Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)



(Arquivo pessoal de Leonice Pereira Barreto)



Inauguração da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, 1923
Barra do Furado

(Foto do acervo pessoal de Ana Beatriz Manhães Pinto)



FOLHA DO COMÉRCIO - DOMINGO - 21 DE OUTUBRO DE 1923
Capela de Nossa Senhora da Boa Morte (Praia do Furado)
Inaugurada em 06 de fevereiro de 1923

        No dia 06 de fevereiro último inaugurou-se na praia do Furado, a capela de Nossa Senhora da Boa Morte, ali levantada pelas Exmas. Senhoras de. Haydéa Peixoto Grain, Isabel Peixoto Crespo, Isabel Sampaio Peixoto e do Sr Francisco Manhães da Boa Morte, proprietário no logar, com auxílio de diversas pessoas.
        Houve, então, benzimento da capela, às dez horas da manhã, missa solene e primeira communhão de 30 meninas, diversos baptizados e casamentos, servindo em todos esses actos o frei Felippe, de Quissaman.
        Às cinco horas da tarde, procissão com grande acompanhamento, e a noite ladainha e um excellente boi pintadinho.
        Nos dias 14 e 15 de agosto, realizou-se a festa em louvor à Padroeira. No dia 14, à tarde e a noite, houve leilão de prendas e ladainha.
        No dia 15, às dez horas da manhã, missa com communhão geral, baptizados e casamentos, às cinco horas da tarde, procissão com grande acompanhamento e a noite continuação do leilão, ladainha e fogos.
        Nos actos religiosos serviu frei Idelfonso também de Quissaman.

Apedidos e agradecimentos.
        
      Os abaixo assignadis communicam por este meio a todas as pessoas que bondosamente concorreram com donativos para o levantamento da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, na praia do Furado, que deram cumprimento à sua missão e a capela foi inaugurada no dia 06 de fevereiro do anno corrente (1923).
        Aproveitam o ensejo para, mais uma vez, agradecer-lhes, bem como os que deram prendas para o leilão realizado por ocasião da festa, em agosto, o valioso auxílio que lhes prestaram. Especialmente agradecem a distinta família WAGNER e seu valiosíssimo auxílio, quer na construção da Capela, quer nas solenidades ali effectuadas, pedindo a Deus por todos.

Campos 16 de outubro de 1923.

Haydéa Peixoto Grain
Isabel Peixoto Crespo
Isabel Sampaio Peixoto
Francisco Manhães da Boa Morte


AVISO

        Juízes da festa de 1924: Sebastião Pessanha, Eudydes Saldanha, Emídio Parente, Júlio Wagner, Bertholdo da Silva Tavares, Domingos Barreto, Alexandre Pereira Manhães e Amaro Gonçalves.
    
        Juízas: Ignácia Manhães de Souza, Anna Manhães Ribeiro, Alzira Wagner, Inah Ignácia Pereira, Hilda Chagas, Angelina Pereira de Souza, Edith Manhães, Lúcia Barcelos Silva e Júlia Souza.

         Festeiros: Major João Wagner dos Santos e Gualter Dias. Tesoureiro: Manoel Domingos de Souza


(Foto do acervo pessoal da bisneta Ana Beatriz Manhães Pinto, filha de Nilda Manhães)
(Transcrito pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)


15 DE AGOSTO DE 1965

(Busto do Cel. Francisco Manhães da Boa Morte, em frente à casa do Furado, 
município de Campos)


Discurso do neto Ayrthon Nery de Souza por ocasião da inauguração do busto

(Do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon e Mariazinha)


Pelo neto AYRTHON NERY DE SOUZA:

Exmas. Sras. Meus Senhores

A mim foi dada nesta hora a missão sublime de agradecer. O que realizamos não poderia ser tarefa de uma só pessoa. Vi, com profundo sentimento de gratidão, que a ideia de se comemorar o centenário de nosso amado e inesquecível avô, Coronel Francisco Manhães da Boa Morte, teve o apoio franco e entusiástico de centenas de seus descendentes. Os filhos ampararam-nos, os 120 netos, uniram-se espontaneamente. Todos, enfim, se congregaram com um só coração e uma só alma para homenagear aquele que nos legou, acima de tudo, o exemplo de probidade, de bondade e de um altruísmo raramente encontrado.

Seja nosso primeiro agradecimento ao Deus todo poderoso que nos concedeu vida, saúde e o ideal sadio e nobre de perpetuarmos no bronze a memória de quem viverá sempre na recordação dos que, em número incalculável, tiveram a ventura de serem chamados seus parentes ou amigos.

A todos quantos em espírito se unem nesta homenagem, a nossa imorredoura gratidão, que mais se aquilata quando vemos unidas na mesma saudade famílias nobres de nossa terra, como as de João Wagner dos Santos, do Desembargador Álvaro Grain, do Dr. Gastão de Almeida Graça e do Dr. Artur Emiliano da Costa, aqui hoje redivivo na pessoa, na inteligência, na palavra clara, ardente e emocionante do seu digno filho Dr. Artur Lontra Costa.

No dizer de um poeta, a saudade nos punge como um espinho, mas qual uma flor delicia-nos com um perfume. Eis o estado em que se acham os nossos corações: sangrados pela dor da separação do nosso velho protetor, privados de suas brandas palavras de orientação e conselhos e daquele olhar cuja piedade nenhum artista poderia reproduzir, não haverá lágrimas capazes de traduzir a grande emoção que nos empolga. A dor, entretanto, é suavizada por essa tão consoladora e afetuosa solidariedade dos amigos e dos parentes do nosso saudoso pai e pela alegria imensa que experimentamos ao ver que ainda existem neste mundo as verdadeiras amizades e o sublime sentimento que se chama gratidão.

Possuídos assim, desse misto de tristeza e de alegria, só nos resta num momento de silêncio, subir todos nós nas asas do pensamento ao Trono da Graça e suplicar ao Onipotente que console as nossas almas e abençoe as nossas lágrimas, permitindo que nós e nossos filhos palmilhemos as veredas da honradez e da bondade sempre trilhadas pelo inolvidável pai, avô, parente e amigo, que foi o venerando Coronel Francisco Manhães da Boa Morte. 15.8.1965.

(Transcrito pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)


LIVRO DE OURO

(Foto do acervo pessoal de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon Nery e Mariazinha)



ABERTURA DO LIVRO DE PRESENÇAS DO DIA 15 DE AGOSTO DE 1965
-Não temos o livro-

        Este LIVRO DE OURO é testemunho de homenagem prestada a um PATRIARCA dos mais dignos, que completaria, hoje, CEM ANOS de existência e nessa data, descendentes seus parentes e amigos que vão assinados a seguir, vieram homenageá-lo, recordando a data e perpetuando sua memória no BRONZE, moldado à semelhança das características fisionômicas de sua AUGUSTA FIGURA.
        Foi escolhido para fixação desse marco comemorativo do CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO CORONEL FRANCISCO MANHÃES DA BOA MORTE, o
próprio local que ele residira por vários anos, onde centralizara a admiração, respeito, a amizade e a gratidão de muitos de seus coevos.
        Que os pósteros encontrem na pessoa do HOMENAGEADO, alimento espiritual para o constante aperfeiçoamento dos mais aprimorados sentimentos cristãos, das criaturas humanas.
        Campos, 15 de agosto de 1965.
(Transcrito pela bisneta Leonice Pereira Barreto, filha de Lali Manhães)



SESQUICENTENÁRIO


(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco Manhães)



(Foto do acervo da Família Manhães)



Da esquerda para a direita, os irmãos: Arlete, Jacy Francisco,
Antônio Francisco e Haydéa -2015.
(Foto do acervo da Família Manhães)



QUEM FOI INÁCIA MARIA DE JESUS?

(Foto do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos, filhos de João Francisco Manhães)


        Em 2015, na mesma data em que foram comemorados os 150 anos de nascimento do Francisco Manhães, também foi instalada uma 3ª placa, ora em homenagem àquela que deu início ao patrimônio da família Manhães.
Inácia Maria de Jesus ao se casar em 1886 com Francisco Manhães levou como dote as terras que compreendiam do Calombê até a atual estrada de Flexeiras. Francisco, como dito anteriormente, era o primogênito de 21 irmãos e, apesar de uma família honrada não era possuidora de bens.
        Gratidão aos irmãos Jacy Francisco, João Francisco, Antônio Francisco, Arlete e Haydéa pela lembrança e homenagem merecida.
Inácia Maria de Jesus, 1ª esposa do Francisco faleceu em 1912, como grafado na 3ª placa do pedestal.

(Fotos e placas de 2015 do acervo pessoal de Lenice Manhães e irmãos,
filhos de João Francisco Manhães



TRANSFERÊNCIA DO BUSTO

        Luiz Carlos Almeida Manhães, Manhães de Quissamã, orgulhoso da sua ancestralidade, há anos se incomodava com o destino do busto do seu bisavô, Francisco Manhães da Boa Morte.
        A peça fruto de homenagem de filhos e netos em 1965, por ocasião do centenário de nascimento, foi posta em frente à casa da antiga moradia do velho Chico.
        Por direito sucessório, aquele espaço físico coube à filha Mariana Manhães Ribeiro, e por ocasião do seu falecimento passou a pertencer à filha Irinéa Manhães Cordeiro e, continuando a sucessão coube à filha única Cristina, bisneta do homenageado.
      À Cristina coube zelar pela peça histórico/cultural a quem a família Manhães tece seu agradecimento até pela recomendação ao Sr. Demerval, que a sucedeu na transferência legal da propriedade, de só liberar a retirada do busto após sua autorização.
        Os anos foram passando e a saga de Manhães de Quissamã em dar um espaço digno àquela lembrança e orgulho familiar permanecia e atormentava seus dias. Afinal, seu antepassado carismático não poderia cair no ostracismo, mesmo porque seu exemplo de vida ainda povoa a memória dos seus netos e bisnetos em qualquer reunião familiar.
        O obstinado bisneto, Luiz, num determinado momento, e por segredo do astral, viu chegar o dia.
     Após liberação da ex-proprietária, Cristina, a retirada da peça custou o emprego de uma retroescavadeira pois, bem instalado, plantado naquele chão, testemunho de muitos encontros, houve certa dificuldade.
        Acertadamente, a intenção era transferir a peça para um local público, com acesso à visitação de turistas, pessoas do lugar e até para as novas gerações, que tivessem naquela figura um exemplo de vida e o lugar mais apropriado seria a Praça da Barra do Furado, em frente à Capela de Nossa Senhora da Boa Morte.
        Por fim, faltava o aceite da Prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco, em receber aquela relíquia histórico/cultural, que só iria valorizar o patrimônio daquele município. Manhães de Quissamã não mediu esforços, afinal, já havia caminhado léguas e com seu temperamento apaziguador, cordato e leal conseguiu acessar as autoridades competentes para finalizar seu intento.
       O agradecimento especial ao Secretário Municipal de Obras do município, Junio Selem, que também facilitou o acesso às autoridades para tramitação da parte legal, a quem, mais uma vez, a família Manhães agradece o empenho.
        Coube a Manhães de Quissamã, encaminhar a solicitação, formalizando assim o pedido de Aceite de Transferência do Busto de uma propriedade particular, no município de Campos dos Goytacazes, para um local público no município de Quissamã.
        E assim, num domingo, 14 de agosto de 2022, após missa solene, às 10h, celebrada pelo padre Mauro Nunes, com a presença de muitos Manhães, vestidos com camisas temáticas, aconteceu a solenidade de reinstalação.


Esse fato é raridade, pois, após 71 anos de falecimento de Francisco Manhães, em 27.12.1951, 
ele ainda mantém a unidade da sua família.
(Foto do acervo de Amaro Vicente e Martha, filhos de Ayrthon e Mariazinha)


Brasão da Família Manhães Foto acessada pelo
https://www.elo7.com.br/brasao-modelo-escudo-manhaes-portugal/dp/E8CFE5








SOLICITAÇÃO E CONVITE


À Sra. Fátima Pacheco
-Exma. Sra. Prefeita do Município de Quissamã
Assunto: Solicitação e Convite

        Nós da família Manhães, por meio do seu munícipe Luiz Carlos de Almeida Manhães, obtivemos autorização para transferência do busto, do patriarca Cel. Francisco Manhães da Boa Morte, de uma propriedade particular, no município de Campos dos Goytacazes (Furado), para o logradouro público em frente à capela de Nossa Senhora da Boa Morte, em Barra do Furado, município com promissor destino, sob sua gestão.
        O local onde estava o bem histórico/cultural era de seus herdeiros, mas atualmente encontra-se em mãos estranhas à família e que por todas as razões não teria motivo para abrir sua propriedade à família ou a algum turista que tivesse curiosidade e interesse na história daquele pedaço de chão.
        Agradecemos seu acolhimento a uma peça valiosa, que relembra um nosso antepassado, que tanto exemplo deixou e apesar de passados 71 anos de seu falecimento, em 27 de dezembro de 1951, ainda reúne a família em torno de seu carisma e caráter apaziguador.
        O bem histórico/cultural foi inaugurado em 15 de agosto de 1965, por ocasião do centenário do seu nascimento e nesses 57 anos de existência permaneceu intacto. Neste momento, cremos que esteja num lugar próprio à visitação de quantos queiram relembrar sua história, que se confunde com a história do lugar. Ele também era proprietário de terras no outrora município de Macaé.
        Nossas preocupações:
-Estará o busto, em bronze, a partir de agora em lugar seguro?
-O município de Quissamã zelará pela sua importância histórica?
-Receberá registro como bem patrimonial histórico e cultural na Secretaria de Cultura do município?
-Como pretende o Poder Municipal garantir sua integridade perante um possível vandalismo?
        Gostaríamos de receber garantias quanto aos questionamentos.
        Neste momento, convidamos V. Exa. Para que esteja presente no dia 14 de agosto, após a missa na capela de Nossa Senhora da Boa Morte, para reinaugurar o busto que está colocado em frente à capela acima citada, na Avenida que já recebe a denominação oficial de Av. Francisco Manhães da Boa Morte.
                                                        
                                                                 Contamos com sua presença.



Família de Bento Pereira Manhães – neto.
Da esquerda para a direita: Rodrigo, Ana Cláudia, Breno, Mônica, Carime, Ricardo 
e Manhães de Quissamã.
(Foto do acervo pessoal de Ricardo Selem Manhães)


(Foto do arquivo da família Manhães)



Busto do Coronel Francisco Manhães da Boa Morte Barra do Furado – Quissamã
(Foto do acervo pessoal de Leonice Pereira Barreto)



Avelino Ferreira -Cerimonialista da solenidade de reinauguração do busto- 
Publicado na sua página do Facebook no dia 14 de agosto de 2022.

        Será reinaugurado em Barra do Furado no Dia dos Pais, no próximo domingo, 14 de agosto de 2022, às 11 horas, no município de Quissamã, pelos descendentes do coronel, ex-chefe político e vereador de Campos, proprietário rural naquele município e na Baixada Campista, Francisco Manhães da Boa Morte, o busto em sua homenagem instalado em 1965 e, há tempos, fora de seu local original.
        Na oportunidade, Célio Wagner lerá matéria publicada no jornal Folha do Povo, publicada em 28 de dezembro de 1951, por conta de seu falecimento aos 86 anos de idade. Segundo a reportagem, Francisco Manhães da Boa Morte “era o verdadeiro chefe político do terceiro distrito, notadamente em Santo Amaro, Assu, São Martinho e Barra do Furado”, tendo sido o vereador mais votado no pleito de 1934 (em 1937 as Câmaras foram fechadas quando da ditadura Vargas).
        Francisco Manhães da Boa Morte foi um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro e, embora grande proprietário de terras, não era um reacionário, segundo vários depoimentos colhidos à época. Inclusive, tendo sido indicado à Presidência do Legislativo, recusou o cargo. Na redemocratização do país, em 1946, com o retorno das casas legislativas e a eleição para prefeito, não mais se candidatou. Mesmo assim, era procurado para conselhos políticos por várias lideranças.
        Registre-se que na Câmara, ele teve como colegas vereadores, no mandato de 1935/37 (seria 1938, não fosse o fechamento dos legislativos), Renato Nunes Machado, Jorge Pereira Pinto, Bartholomeu Lysandro de Albernaz, Gualberto Bicudo da Silva, Antônio Salgueiro Júnior, Antônio Gonçalves Coutinho e Gervásio de Vasconcellos Cordeiro.
        A iniciativa da recolocação e reinauguração do busto em sua homenagem é obra de seus bisnetos, destacando-se Luis Carlos de Almeida Manhães (Manhães de Quissamã) e Leonice Pereira Barreto (educadora e atriz em Campos), que têm orgulho da história do bisavô, político e proprietário rural.
        Casado com Inácia Maria de Jesus, Francisco foi pai de 13 filhos (1º matrimônio).
      Com o falecimento de Inácia Maria de Jesus, constituiu o segundo núcleo familiar com Francisca Custodia da Conceição, com quem teve mais 09 filhos. Quando faleceu, deixou seus bens para todos os filhos dos dois matrimônios e mais quatro, que reconheceu, deixando-lhes, em testamento, muitos alqueires de terra, assim como deixou três alqueires para um dos seus empregados e, muitas cabeças de gado bovino para outro empregado de sua confiança.
       No centenário de seu nascimento, em 15 de agosto de 1965, prestaram homenagem com a inauguração do busto 120 netos e 52 bisnetos. Na ocasião, discursaram Togo de Barros, Oswaldo Cardoso de Melo, Ferreira Paes, o prefeito Rockfeller de Lima, o deputado Saramago Pinheiro e Arthur da Lontra Costa.
        Francisco Manhães da Boa Morte faleceu em sua residência, na rua Ypiranga, 90, onde seu corpo foi velado tendo a presença do procurador geral do Estado, Nelson Pereira Rebel e discursado o seu amigo Ulisses Martins. Depois, uma locomotiva especial saiu da Estação Ferroviária levando o seu corpo para Santo Amaro, onde foi sepultado, sendo o féretro acompanhado por cerca de mil pessoas.


Moradia de Francisco Manhães na localidade de Pau Grande,
Município de Campos dos Goytacazes
(Foto do acervo pessoal da historiadora Sylvia Paes)




AGRADECIMENTO

Aqui deixamos nossa gratidão a todos que contribuíram para que trouxéssemos à luz, uma pequena mostra da trajetória de um homem que marcou seu tempo, não com palavras, mas por meio de exemplos edificantes que, ainda hoje, norteiam seus descendentes na busca da evolução. E, em especial:

-À Alves Coordenação Editorial e Assessoria Digital (Ana Elisa e Nana Rangel);

-A Alvanir Ferreira Avelino, jornalista, professor, ator, escritor, palestrante e cerimonialista graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC) e pós graduado em ensino de Filosofia pela mesma instituição;

-À Edinalda Maria Almeida da Silva, mestra em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) e ocupante da cadeira nº 28 na Academia Campista de Letras (ACL), a Família Manhães agradece a revisão ortográfica deste dossiê;

-A Francisco Aguiar, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG);

-A Genilson Paes Soares, artista plástico, bibliófilo, publicitário, designer gráfico e bacharel em Comunicação Social pela Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC), 1º Tesoureiro do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG) e ocupante da Cadeira nº 26 na Academia Campista de Letras (ACL);

-A Orávio de Campos Soares, jornalista, ator, diretor, ocupante da cadeira nº 33 na Academia Campista de Letras (ACL), Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), por fotos e inserção dos Manhães, da Barra do Furado, na sua dissertação de mestrado “Muata Calombo” – consciência e destruição;

-À Sylvia Márcia da Silva Paes, historiadora, mestra em Planejamento Regional e Gestão de Cidades pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) e ocupante da Cadeira nº 04 na Academia Campista de Letras e que teve como única patronesse da ACL, Amélia Gomes de Azevedo.

-Aos Secretários da Prefeitura de Quissamã:

Junio Selem Pinto - Secretário de Obras;

Kitiely Freitas – Secretária de Cultura e Patrimônio; Leonardo Barros – Secretário de Comunicação.

-A Marcelo Batista. Vice-Prefeito de Quissamã.

-À Fátima Pacheco, Prefeita de Quissamã.





BIBLIOGRAFIA

-COUTO REYS, Capitão Manoel Martins do. “Uma descripção política, geographica e cronographica do Districto dos Campos Goytacaz”, de 1785.

-FAUSTO, Boris. (1975:78 apud Paes, 2018)

-LAMEGO, Alberto Ribeiro. “O Homem e a Restinga” (Lamego, 1974, p.25)

-VASCONCELOS, Frei Simão de. “A vida do venerável padre José de Anchieta” 1594.










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