MUCIO DA PAIXÃO
Resumo biográfico
Manoel Mucio da Paixão Soares, ou simplesmente
Mucio, que há 150 anos nasceu em uma sexta-feira da Paixão, na rua da
Imperatriz nº 2, hoje Saldanha Marinho, 319, Centro de Campos dos Goytacazes,
RJ.
Ele foi comerciário, telegrafista, contabilista, deputado
estadual, tenente da guarda
nacional, espírita, maçon, professor, jornalista, escritor, historiador,
teatrólogo. É nome de rua e do Teatro do Sesc em nossa Cidade .
Sua mãe, Adelaide Rita da Silva Soares, nascida em São Gonçalo na
baixada campista, era neta de índio goitacá e o pai Manoel Moreira Soares era
português e comeciante na freguesia de Dores de Macabú.
O menino Mucio fez os seus estudos primários no Colégio São
Salvador e no Liceu Azurara. Mas, por ser de família humilde, teve que trabalhar muito cedo.
Aos 11 anos de idade foi para o Rio de Janeiro ao encontro
do irmão mais velho, Leopoldo e começou o seu primeiro emprego em um depósito
de tecidos e depois na Livraria Contemporânea no Centro da Cidade.
No ano de 1882, faleceram o seu pai e o irmão, o que tornou
sua responsabilidade familiar ainda maior, pois teria que cuidar da mãe e a
irmã Benedita.
Em 1884, o adolescente Mucio, após
viver quatro anos na capital, onde frequentou teatros e teve os primeiros
contatos com as artes cénicas, regressou a sua terra natal.
No ano seguinte foi morar em
Carangola, MG, onde conseguiu emprego de telegrafista na Estrada de Ferro.
Em 10 de setembro de 1885, ele
alterou o seu nome de “Manoel da Paixão Soares” para “Manoel Mucio da Paixão
Soares”, pois existia um homônimo na Cidade de Recife. Talvez a inspiração do
nome tenha vindo do poeta gaúcho Mucio Teixeira.
É deste período que o jovem Mucio se
aproxima da literatura, mais especificamente da poesia, estimulado por um
professor de Carangola de nome Evaristo de Almeida.
Inspirado nas matas da região e as
saudades do lar, ele escreveu um coleção de versos, que até hoje são inéditos,
intitulados de “Lírios e Rosas”.
De volta a Campos em 1890, Mucio
trabalhou no escritório da Casa Comercial “AU LOUVRE”, onde permaneceu até fins
de 1897.
Mucio era um auto-didata e com a
experiência adquirida
como guarda-livros, iniciou sua trajetória como professor em 1895, quando foi
nomeado para titular da cadeira de Escrituração Mercantil do Liceu de
Humanidade.
Após concurso em 1898, passou a
ministrar a mesma disciplina, também, na Escola Normal, atual ISEPAM, então,
anexa ao Liceu.
Já em 1912 foi nomeado e assumiu a cadeira de História Universal e de
História do Brasil nessas mesmas escolas.
Encerrou sua carreira como professor
em 1920.
Vivendo em Campos, no seio da
geração literária liceista e com ideais liberais republicanos, Mucio começou a
colaborar com a imprensa local.
A prosa forte e combativa se tornou
a sua marca. Com o pseudônimo de Ali-Alá, estreou em 23 de julho de 1891, a coluna
“Lucros e Perdas” no jornal A REPÚBLICA.
Depois participou
ativamente da revista A AURORA e dos jornais A GAZETA DO POVO, MONITOR
CAMPISTA, O TEMPO, FOLHA DO COMMERCIO, todos de Campos, além de
correspondente das revistas EPOCHA THEATRAL do Rio e O PHAROL de Juiz de Fora.
É deste período a sua rápida
experiência na política partidária. Em 1º de fevereiro de 1892, foi eleito
deputado estadual constituinte pelo Partido Operário de Campos, com 1601 votos.
Mucio fez parte ainda da Guarda
Nacional do Estado do Rio de Janeiro, sendo nomeado tenente da 3ª companhia de
Campos em 3 de novembro de 1893. No mesmo ano o seu nome constou da lista de um
Manifesto ao Povo Campista, feita pelos militares em apoio ao governo do
Marechal Floriano.
A partir do ano de 1900 Múcio se entregou de corpo e alma,
exclusivamente às letras.
Publicou na revista “AURORA”,
ensaios biográficos, críticas e histórias do nosso teatro.
Escreveu, adaptou e traduziu
diversas comédias, operetas, revistas e peças para teatro. A sua estréia foi em
31 de dezembro de 1899 no Teatro São Salvador com a revista “Fim do Mundo”, em
parceria com Manoel Moll.
Mucio tem 6 livros publicados:
- 1905: “Cenografia”, um estudo sobre o teatro
carioca;
- 1916: “Espírito Alheio”, episódios e anedotas a
respeito de gente de teatro;
- 1919: “Os Teatros de Campos”, a
história das casas de espetáculos da Cidade;
- 1922: “Tipos, Curiosidades e
Esquisitices dos Homens Célebres”;
- 1924: “Movimento Literário em
Campos”
- 1936: “O Teatro no Brasil”, obra
postuma.
E mais: 24 obras
inéditas, a maioria desaparecida:
- “Esboços e Silhuetas”
- “Elementos de Caligrafia”
- “Desenho Geométrico”
- “Lições de História do Brasil”
- “Teoria da Escrituração Mercantil”
- “Questões de Escrituração”
- “Sistema de Escrituração e
Contabilidade em Geral”
- “Movimento Socialista no Brasil”
- “Congregação dos Operários do
Brasil”
- “As Reformas das Questões Sociais”
- “Da Imitação no Theatro”
- “Arthur Azevedo : sua vida de
obras”
- “Coisas do Tempo Antigo”
- “Os Nossos Theatros”
- “Camilo, Eça & Fialho”
- “Homens de Letras”
- “Teatro Visto Por Fora e Por
Dentro”
- “Coisas e Gente de Theatro”
- “Perfis Theatrais”
- “O Theatro Brasileiro”
- “A Vida dos Bastidores”
- “Theatro São Salvador”
- “MANHÃ... TARDE... NOITE”
- “O ARMAZÉM”
Agora um pouco sobre os seus
descendentes.
No seu primeiro casamento com Rita
de Cássia de Castro Soares, Múcio não teve filhos.
Contudo, fruto de relação
extra conjungal, tornou-se pai de René de Castro Soares, escritor e jornalista,
falecido em São Paulo em 1954.
Já com sua terceira esposa, Antônia
Maria de Campos, surgiram os seguintes filhos: Mucio Filho, Adelaide, Antonina
(mãe de Orávio), Leopoldo e Hugo.
Em 1905 ele foi Secretário do Liceu de Artes e Oficios
Bithencourt da Silva e da Prefeitura de Campos.
Em 1909 foi Diretor do Liceu e Escola Normal.
Em 1910 foi Secretário Geral da Sociedade Espírita
Concordia, que funcionava na rua 13 de maio e Secretário adjunto da Santa Casa;
No dia 7 de setembro de 1914, Múcio tomou parte no I
CONGRESSO DE HISTÓRIA NACIONAL com as teses: “Os Theatros em Campos”, “João
Caetano” e “O Theatro Niteroiense”.
Da mesma forma em 1922, foi o representante de Campos e do
Estado do Rio de Janeiro no XX CONGRESSO INTERNACIONAL AMERICANISTA, onde
defendeu a tese “A Tribu dos Goitacás”.
Criou em Campos em 1917 a “Academia Fanzeres” de belas
artes, uma homenagem ao pintor capixaba Levino Fanzeres, que expos na Cidade no
mesmo ano.
Múcio da Paixão foi ainda Presidente da Liga
Campista de Futebol em 1918;
Como exímio orador, proferiu diversos discursos em
solenidades na nossa Cidade. Destacamos a inauguração dos bustos de José do
Patrocínio (13-5-1921 – obra de Modestino Kanto), do barão do Rio
Branco (10-2-1916 – obra de Felix Charpentier) e da herma de José Alexandre
Teixeira de Mello – 14-4-1912 – obra de Rodolpho Bernadelli).
Ele também foi laureado com sócio fundador da Academia Fluminense de
Letras em 1917 e tomou posse da cadeira 29 em 1921, tendo como patrono Emmanuel
Carneiro.
Atualmente essa cadeira é ocupada pelo médico Waldenir de Bragança, mas
já foi de outros dois campistas ilustres: Theophilo Guimarães e Hamilton
Nogueira.
É patrono da cadeira 37 da Academia Niteroiense de Letra. Em Campos da
cadeira 31 na Academia Campista de Letras e a 41 no nosso Instituto Histórico e
Geografico.
Foi sócio correspondente do Instituto Histórico Fluminense, Academia
Mineira e Baiana de Letras.
E, também, um dos fundadores da Associação dos Empregados no Comércio de
Campos.
Foi presidente do Centro Fluminense de Imprensa na década de 1920.
Seu último emprego foi na empresa teatral de Paschoal Segreto em 1926,
ano que faleceu de infarto na madrugada de 23 de dezembro. Mucio tinha 56 anos
e estava na sua residência à Rua dos Goitacazes, 260, hoje 484.
CURIOSIDADES
Dos tempos de internato no Lyceu
Azurara, Mucio lembra-se da figura do Visconde de Pirapetinga em seu solar que
ficava em frente à escola.
Ele lia todos os dias, após o
jantar, os seus maços de jornais, fumando um charuto cubano em sua piteira de
ambar.
Mucio tinha muitas ligações com à
família Peçanha. Foi amigo de Nilo, com quem trocou diversas correspondências e
se elegeu deputado estadual constituinte junto Alcibiades.
O pai de Mucio morreu de grangrena
com 52 anos. Ele morava e tinha um comércio em Dores de Macabú com o nome de
Moreira & Bastos.
José Cerveira de Carvalho foi o
inventariante e tutor de Mucio e sua irmã Benedicta.
O republicano e abolicionista Mucio
não gostava de D. Pedro II. E rebatia ferozmente e fazia inimizades com quem defendesse o
imperador.
Mucio afirmou que os três fatos mais
importantes que marcaram a sua geração de literatos foram a criação do Liceu de
Humanidades, o jornal Gazeta do Povo e a revista A Aurora.
Certa vez Julio Feydit afirmou para
o kardecista Mucio, e ele concordou, que o senador Pinheiro Machado era a
reencarnação do general Salvador Correa de Sá e Benevides.
Segundo Mucio, além da arrogância do
velho senador gaúcho, que motivos teria ele de querer ser latifundiário das
terras da Boa Vista?
Na inauguração do Teatro Trianon em
1921, coube a Mucio fazer a saudação a atriz mexicana Esperanza Iris, que se
apresentou na ocasião.
Em correspondências trocadas com Alberto Lamego
na Europa, no ano de 1914, Mucio, após saber
que o nosso ilustre historiador tinha descoberto vasta documentação que
comprovava os feitos da heroina Benta Pereira, lhe comunicou que tinha
solicitado a Comissão de Sanemento da Cidade, a criação de um obelisco comemorativo
ao fato.
Descreveu que seria um monolito com
5 m de altura em pedra bruta, onde colocaria em cada uma das faces as datas das
quatro jornadas: 1730 – 1740 – 1747 – 1748.
O marco seria instalado em frente a
igreja Mãe dos Homens. E teria ainda
um baixo relevo em bronze assinado por Bernadelli, com a cena da nossa Benta
montada a cavalo. Infelizmente a obra não se concretizou, assim como aconteceu
com a estátua, anos mais tarde.
Assim o descreveu o amigo Alberto Frederico de Moraes Lamego:
“Sempre
trajado de negro, costumeiramente com gravata imensa, flutuante
e chapelão mole cobrindo sua cabeleira branca, à Bethooven, contrastando com a austeridade do
vestir, abria seu maior e mais afetivo sorriso
ao amigo recém-vindo o maior e mais afetivo dos sorrisos.”
Homenagem do pesquisador Genilson
Soares:
“No
teatro da sua vida, primeiro Manoel deu nome ao seu personagem, depois
percorreu o balcão, o camarim, a coxia até chegar ao camarote. Escreveu o seu
roteiro, representou um drama e nos surpreendeu com uma tragédia. Um espetáculo
inesquecível, em cartaz há 150 anos.”
Campos dos Goytacazes, RJ, 15 de
abril de 2020.
Pesquisa realizada por Genilson Paes
Soares.
Fontes:
Jornal Monitor Campista
Jornal A República
Gente que é nome de rua – volume I –
1985 – Waldir P. de Carvalho
Movimento lierário em Campos – 1924
- Mucio da Paixão
Acervo particular da biblioteca de
Welligton Paes
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